Tenho uma amiga que se tornou
uma das pessoas mais importantes da minha vida. Ela é antropóloga, estuda os
rituais de morte e de passagem entre os indígenas. Eu também tenho grandes
interesses na morte, que entendo como transformação. Parece meio mórbido interessar-se
por essa temática, eu sei. Mas não vejo assim. Interessar-se pela morte é
interessar-se pela vida. Ela gosta muito de canoas e eu de anjos. Em nossas
conversas sempre desvendamos os arquétipos que se apresentam nos acontecimentos
de nossas vidas. Uma vez, enquanto conversávamos no carro, havia uma coruja nos
observando. Outra, havia um quadro com um anjo gigante na parede acima da mesa
onde estávamos. Foram tantas as vezes que coisas semelhantes aconteceram, que
isso até soa fantasioso. Os símbolos arquetípicos parecem se materializar
quando estamos juntas. E por meio de nossas conversas conseguimos acessar
outros estados de consciência e percepção do mundo que nos fazem refletir
lucidamente sobre a nossa efêmera existência nesse mundo.
Foi
em uma dessas conversas que desvendamos o porquê de ela gostar tanto de canoas.
Concluí, na ocasião, que este é o meio de transporte de Caronte pelo Rio das
Almas e era natural que esse símbolo se manifestasse de várias maneiras na vida
dela, afinal ela tem uma missão para com os mortos. Em outro momento, falamos
sobre as cores dos sentimentos: azuis e vermelhos. Com a ajuda dela, entendi
porque o mundo dos anjos é representado em preto e branco. As cores vibram e
provocam-nos sensações e sentimentos pelos olhos e pelo coração. E no mundo em
preto e branco não há vibração. Nele é possível a contemplação, não há
desequilíbrio. Pode-se observar sem se apegar, pois é o apego, a paixão, a
origem da dor. Há paz na contemplação...
And if you look
You look through me
And when you talk
Is not to me
And when I touch you
You don't feel a thing
If I could stay
Then the night would give
you up
Stay
Then the day would keep its
trust
Stay
and the night would be
enough
(Stay – U2)
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