domingo, 29 de novembro de 2009

A caixa de Pandora...

O texto intitulado Proesas da moderna Alchimia aborda as experiências químicas e físicas feitas por cientistas renomados do início do século XX. Este texto foi publicado na Revista do Club Coritibano em 1913 e revela que Dario Vellozo entendia a Química moderna como a antiga Alchimia, isto é, ele não via uma diferença entre a busca da pedra filosofal e as pesquisas dos modernos cientistas, assim como outros pensadores de seu tempo.

Proesas da moderna Alchimia*
Está realizado o velho sonho da alchimia: transmutar a materia vil em materia nobre. Esta esperança que todos os povos perseguiram, que atravessou toda a historia, e na qual creditaram, muito antes da éra christã, o Egypto e a Chaldéa, a Judéa e a Grecia, que em Roma, Tertuliano, desde o terceiro seculo, amaldiçoou, que toda a nossa edade média manteve em segredo, sob a perpetua ameaça das fogueiras, e que por fim se tinha abandonado ha uma centena de annos, eil-a que, por uma singular surpresa da sciencia, ressurge como uma verdade.
Sir William Ramsay já nos tinha feito entrever a transmutação dos metaes. Desde horas, temos a transmutação das pedras.
Um sabio francez encontrou o segredo de transformar o corindon, sem valor, num topasio ou num rubi.
Ouçamos a historia desse descobrimento, feito num laboratorio do Collegio de França, de que um grande homem de sciencia, Lapparent, deo, ha dias, conhecimento à Academia de Sciencias.
De ha tempos que o professor Bordas se preoccupava com uma observação dos esposos Curie, observação que tinha merecido tambem, a interessada curiosidade de Berthelot. Sabe-se que o radium** – esse prodigioso corpo – está encerrado em tubos de vidro, minusculos; pois bem, o vidro desses tubos ganha sempre uma magnifica coloração azul. Berthelot, estudando essa coloração, attribuira-a a vestigios de manganez, que com o seo miraculoso poder de projecção o radium descobre no vidro e faz reviver.
O professor Bordas quiz levar mais longe este estudo, esta observação, afim de verificar se aquella explicação, sendo verosimil seria verdadeira e a unica.
Teve então a idéa de reccorrer aos productos naturaes os mais duros, ás pedras finas, e submetteu-os á acção do radium.
Pegou em coridons*** de quatrocentos réis o quilate e pol-os em contacto com um tubo de radium puro, e deixou-os, durante um mez, submetidos àquella acção, sem mais se preoccupar. Ao cabo daquele lapso de tempo, foi sorprehender aquellas pedras, que seria de um injustificado exaggero intitular preciosas. – Ellas tinham mudado de cor!
O coridon incolor tornara-se amarello como o topasio; o coridon azul, verde como a esmeralda; o coridon vilaceo, azul como a saphira.
Assim, se achava desde já destruida uma das mais incontroversas opiniões dos sabios: que cada pedra tem a sua cor, propria, que cada pedra tem o seo oxydo proprio, e que não havia relação alguma entre esses oxydos. Mas, isto era apenas o prologo das surpresas reservadas ao espirito admiravel do preparador. O professor Bordas em seguida leva aquellas pedras transformadas ao joalheiro que lha’as vendera. Este não as reconhece já, e declara que em vez de quatro tostões o quilate, ellas valiam nove mil réis o quilate.
Não sabemos como é tecida a alma do professor Bordas; mas calculamos que deve ter experimentado uma commoção feita, a um tempo, de extranha alegria e de tétrico horror.
Surprehender-se, de repente, possuidor do segredo de fazer e desfazer fortunas, segredo que todas as gerações procuram impacientemente e desesperadamente desvendar, atravez esperanças insensatas e decepções seculares; dizer a si proprio que, talvez, amanhan, vá arrazar industrias, mudar as cambiaes da Bolsa, deitar por terra, ao mesmo tempo, o calculo dos sabios e dos financeiros, conseguir todos esses factos de um alarmante imprevisto, com a simples revelação do seo segredo, traindo a natureza que, durante milhares de annos, dissimulou o parentesco que liga o metal nobre ao metal vil, são coisas que justificam o estremecimento violento de um coração dentro do peito.
Mas, os sabios pensam unica e simplesmente na sciencia, e a ancia dos descobrimentos domina-lhes todos os sentimentos e todos os pensamentos.
O professor Bordas teve apenas um desejo: recomeçar as experiencias, envolvendo-as de novas certezas.
Pedio, pois ao joalheiro que lhe cedesse corindons aos pares, dois incolores, exactamente identicos, dois violaceos, etc... Segurou, então os pares, e, guardando um coridon de cada par, como testemunha, poz o outro em contacto com um milligramma de radium. Este, fez novamente a reacção: penetraram nas pedras e submetteram-as a uma especie de bombardeamento luminoso. Ao cabo de algumas semana, o experimentador tornou a observar os seos dois corindons e levou-os outra vez ao joalheiro. O corindon que soffrera a acção do radium transformara-se em rubi, e este que antes valia uns quinhentos réis o quilate, foi avaliado ente cem e cento e vinte mil réis.
Quanto às outras pedras submettidas à acção do radium, ellas transformaram-se assim:
O coridon vermelho escuro, tornara-se vilaceo; o coridon vilaceo, azulara (saphyra); o corindon azul, tornara-se amarello (topazio). se refere as cores da alchimia.
Não ha, pois, differença entre as pedras, e tem razão o velho symbolo da alchimia, “dragão que morde a cauda”, para significar que na natureza não ha principio nem fim.
Sir William Ramsay, transformando o cobre em lithio, provara que a transmutação dos metaes não era uma chimera, o professor Bordas transformando a pedra vil em pedra preciosa, encontrou a transmutação das pedras, e o seo descobrimento tem mais importancia e valor pratico que aquelle, porque pode paralyzar, como lhe convier, a transmutação das pedras. O corindon tornado rubi conserva a sua cor, que nem o calor, nem a electricidade modificam.
Assim, a pedra philosophal, cuja rebusca foi, até ao seculo... XVIII, considerada um crime, essa varinha magica em que o seculo XIX ja não acreditava, o francez Curie a descobrio e o francez Bordas lhe provou o seo real valor.

O minusculo tubo de radium, grande como duas cabeças de alfinete juntas, comprido de dois alfinetes postos um ao longo do outro, eis a varinha da sciencia, com o auxilio da qual ha quem possa interferir no valor das joias, ennobrecendo as pedras. Que esse milligrama de radium valha uma fortuna, que um kilo seja avaliado em 80 mil contos de réis, isso que importa?! Alguns miligrammas bastam para transformar multiplas pedras, pois que cada milligramma deve conservar durante dois mil annos a sua força radio-activa.
Mas, quaesquer que sejam as consequencias economicas deste descobrimento scientifico, que o vil corindon adquira um valor inverosimil, ou que a pedra preciosa pelo contrario, caia do seo throno de gloria e se desvalorize, perdendo num dia todo o seo preço, devemo-nos inclinar, com respeito, deante deste novo milagre, porque, com elle, o homem acaba de adquirir sobre as cousas um poder que até agora era apenas regalia da divindade.
O radium parece que é a origem de tudo. A acção da radio-actividade vae, dia a dia, conquistando novas sorpresas, vae alastrando a area da suas emprevistas revelações, e, o assombro cresce e avoluma cada vez que a sciencia, a eterna insaciada e a eterna disvirginisadora dos mais insondaveis segredos da natureza, pela voz dos seos apaixonados, nos vae exhibindo todos os seos exitos.
Que extraordinaria maravilha, que surprehendente magia encerra o radium que tanta cousa transforma, tanta cousa transmuda, que dir-se-hia, conta na sua propria essencia, perpetuamente luminosa, o poder mysterioso, occulto e ainda ignorado da vida inicial. Outros maravilhosos descobrimentos, certo, se deverão à acção do radium, e a vida actual, que tem as suas superstições e os seos preconceitos de organização social alicerçados em bases que se julgavam solidas, talvez esta vida tenha de transformar-se tambem, e então o espectaculo da sua desorganização será um extraordinario capitulo a que – ae de nós não podermos assistir.
Já não será a fantasia quem ha de erguer as regiões ainda hoje chimericas as ambições desmedidas e as ancias impacientes, mas a verdade, que então, volvidos annos, proclamará a sua acção, exclusiva, e, chimeras, sonhos, tudo rolará, desdenhado e escarnecido, pelas gerações futuras, no pó da inutilidade.
Sim, não ha descobrimento que mais do que este, justifique a phrase de certo philosopho:
_ Os deozes invejam o que os homens descobrem. ****

______________
* O português é característico da escrita do século XIX. Optei por manter o texto como grafado na fonte.
** Radium, identificado na tabela periódica como Rádio (Ra) elemento químico de número atômico 88 (88p e 88c), massa atômica: 226. Está entre os metais alcalinos terrosos, grupo 2 da classe periódica dos elementos. É um metal altamente radioativo.
*** Coríndon, Corindo ou Corundum é um mineral à base de óxido de alumínio, que representa o valor nove em dureza, na escala de Mohs. Naturalmente transparente, pode ter cores diferentes de acordo com impurezas que possui. Os espécimes translúcidos são usados como jóias; o de coloração vermelha é chamado de rubi, tendo outras cores, amarelo, rosa, púrpura, verde e cinzento; o azul é chamado de safira.
**** Revista do Club Coritibano, ANNO XIV, no. 3, Março de 1913.

Quando Vellozo afirmou que “O radium parece que é a origem de tudo”, deixou claro a sua crença em uma pedra que pudesse conter a essência de todas as coisas, a pedra idealizada pelos místicos e alquimistas antigos, com poder de transmutar toda a matéria: a pedra filosofal. Vale lembrar que a experiência acima relatada procede. Ainda hoje são utilizadas técnicas envolvendo a radioatividade para se conseguir transmutar pedras sem valor em pedras preciosas, no entanto, usa-se berílio em vez de radium.
O que este texto demonstra é que Vellozo ficou deslumbrado com a descoberta da radioatividade. Mal sabia ele sobre as conseqüências nefastas destas experiências reservadas ao porvir, como a bomba de Hiroshima e Nagasaki, pois morreu em 1937, antes dos tristes eventos relacionados a essa maravilhosa descoberta. As experiências com radioatividade, que muitos cientistas empreenderam desde a descoberta do radium por Marie Curie, foram comuns em sua época. Tais cientistas expuseram-se à radiação sem saber dos efeitos sobre a saúde humana. Possivelmente encontravam-se fascinados por seu poder brilhante, tanto quanto Vellozo.

Para Vellozo o que a Ciência estava descobrindo, já era sabido pelos sábios e magos de diversas culturas de outrora. Mestres, heróis, deuses, sacerdotes, messias, avatares, que guardaram um segredo sagrado revelado a poucos por meio de simbolismos, desvendáveis apenas para os que tivessem as chaves, ou seja, aos que fossem portadores do entendimento dos significados dos códigos simbólicos. Não foi à toa que o simbolismo tornou-se a principal forma de expressão literária dos curitibanos. Curiosamente, Vellozo declarou a impossibilidade de saber onde a ciência do seu tempo chegaria com todas aquelas descobertas “ae de nós não podermos assistir”. Em visão retrospectiva, pergunto-me se experiências como essa, da ciência moderna, de quem somos herdeiros, não nos abriu a caixa de Pandora.

domingo, 6 de setembro de 2009

tinha um caminho no meio das pedras...


A pedra está sempre ali,
no meio do caminho.
Nem ela sabe se estava lá e fizeram o caminho ao redor,
ou se fizeram o caminho e ela apareceu depois.
Não tem a menor importância,
porque o negócio da pedra é ficar.
Pedra não reclama de nada.
Pedra não faz mal a ninguém.
É diferente quando alguém joga uma pedra,
mas a pedra não tem culpa.
As pedras se entendem muito bem.
Toda pedra vem de outra pedra maior,
que vem de outra maior ainda.
Quer dizer: toda pedra é um pedaço de pedra.
Isso tem a maior importância para a república das pedras.
Declaração Universal do Direito da Pedra:
Um pedaço de pedra é uma pedra.
(A.N.)

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

poetas: alquimistas da palavra...


QUEM DE TI NÃO PRECISA,
PRECISA PROEZA,
A PACIÊNCIA ALQUÍMICA
DE TRANSFORMAR FERRO EM OURO
ENQUANTO A BRASA LENTA
ESQUENTA
A PACIÊNCIA DE FAZER
ALGO ALÉM DE ALGO
O MUNDO VELOZ
EM FILME DE CÂMERA LENTA
POETA SEM SETA E SENTIDO
ALVO INVENTA
c.moreira

sábado, 8 de agosto de 2009

sábado, 18 de julho de 2009

Ciência hermética...

"Os falsos sábios, reconhecendo a irrealidade comparativa do Universo, imaginaram que podiam transgredir as suas Leis: estes tais são vãos e presunçosos loucos; eles se quebram na rocha e são feitos em pedaços pelos elementos, por causa da sua loucura. O verdadeiro sábio, conhecendo a natureza do Universo, emprega a Lei contra as leis, o superior contra o inferior; e pela arte da Alquimia transmuta aquilo que é desagradável naquilo que é agradável, e desse modo triunfa. O Domínio não consiste em sonhos anormais, em visões, em vida e imaginações fantásticas, mas sim no emprego das forças superiores contra as inferiores, escapando assim das penas dos planos inferiores pela vibração nos superiores. A Transmutação não é uma denegação presunçosa, é a arma ofensiva do Mestre." (O Caibalion)

A ciência moderna prova que o que chamamos de Matéria e Energia, são simplesmente modos de movimento vibratório, e muitos dos nossos mais adiantados cientistas estão se aproximando, cada vez mais, dos ocultistas, os quais sustentam que os fenômenos da Mente são modos semelhantes de vibração e movimento, permitindo-nos examinar mais de perto o que já dizia a ciência hermética sobre a questão das vibrações da energia na matéria.

No entanto, essas evidências são motivo de ironia para os céticos. Achar que a prática da magia acontece como nos livros de Harry Potter, é um grande erro. A ciência sagrada, praticada pelos antigos sábios e magos, do Egito à Índia, era composta pelo conhecimento de quatro fundamentos operacionais: a magia, a alquimia, a astrologia e a cabala. A magia associada ao movimento, a astrologia à luz, a cabala ao verbo e a alquimia ao calor. Tais fundamentos, por sua vez, são sustentados por sete princípios herméticos: o mentalismo, as correspondências, a vibração, a polaridade, o ritmo, o gênero, a causa e efeito.

A magia é uma arte MENTAL. E aquele que conhece os princípios da verdade possui a chave mágica com a qual todas as portas se abrirão. Mas sobre esse asunto, nada mais posso falar... aquele que tem interesse e VONTADE, siga o fio...

terça-feira, 30 de junho de 2009

... opiniões solitárias...

Andei léguas de sombras
Dentro de meu pensamento
Das minhas sensações
Deixo de me incluir
Dentro de mim. Não há
Cá-dentro nem lá-fora.
E o deserto está agora
Virado para baixo.
(fragmentos de Fernando Pessoa)

Empresto uma pessoa de Fernando
Queria poder ir embora de mim mesma...
Fugir à turba dos zumbis
que zumbem infernalmente em minha mente.
Apressar o fim,
para enfim começar por fim...
Mas o que digo eu,
Não sou eu quem digo,
é uma pessoa que habita em mim...

sábado, 27 de junho de 2009

... nos paradigmas do saber...

Ao trabalhar com a história da ciência, um de meus focos é a mudança de paradigma que o saber científico sofre ao longo dos tempos. Antes do século XIX, século do cientificismo por excelência, ciência e magia não eram pensadas separadamente. E segundo os grandes historiadores da ciência, o saber hermético antigo muito contribuiu com a revolução científica do século XVII. À parte a discussão sobre as origens místicas da ciência e sua relação com o hermetismo, assuntos que fazem parte de meu objeto de pesquisa, gostaria de ilustrar uma mudança de visão de mundo, no que diz respeito ao jogo de xadrez. A revista Scientific American deste mês traz, em uma de suas seções, a seguinte matéria, publicada pela mesma revista, em 1859:

Submetendo-se ao xadrez - "Uma mania perniciosa para aprender a jogar xadrez espalhou-se pelo país todo, e vários clubes formaram-se em inúmeras cidades para estimular a prática do jogo. Pode-se perguntar: Por que deveríamos lamentar? A resposta é que o xadrez é uma simples diversão engendrada por um ser inferior que rouba da mente um tempo precioso que poderia ser aproveitado com conhecimentos mais nobres, além de não trazer nenhum benefício ao corpo. O xadrez goza de alta reputação como uma forma de disciplinar a mente, mas as pessoas envolvidas em ocupações sedentárias nunca deveriam praticar esse jogo sem graça; elas precisam de exercícios ao ar livre - e não desse tipo de digladiamento mental."

Essa é uma visão, veiculada por uma revista científica do século XIX. No entanto, o xadrez, hoje, consta como disciplina alternativa em algumas escolas. Há campeonatos interescolares nacionais e internacionais. E os especialistas contemporâneos afirmam que sua prática ajuda na concentração e na formação da dinâmica cerebral. Achei essa matéria curiosa, pois como historiadora, acho importante observar como os paradigmas de saber são flutuantes e oscilantes. E isso vale para paradigmas de comportamento, do que é bom ou ruim, do que é certo ou errado numa sociedade. Cada momento histórico estabelece uma relação com os seus paradigmas norteadores em todas as áreas da vida.

In.: Scientific American Brasil, Ano 8, no. 86, p. 10.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

... margaritae


Um velho índio descreveu certa vez seus conflitos internos:
"Dentro de mim existem dois cachorros, um deles é mau e cruel, o outro é muito bom e dócil. Os dois estão sempre brigando..."
Quando então lhe perguntaram qual dos cachorros ganharia a briga, o sábio índio parou, refletiu e respondeu:

"AQUELE QUE EU ALIMENTAR..."

sábado, 23 de maio de 2009

Solve et Coagula

Conselhos da Natureza ao alquimista errante (1516), Jean Perréal, Museu Marmottan, Paris.

"Quem nada conhece, nada ama.
Quem nada pode fazer, nada compreende.
Quem nada compreende, nada vale.
Mas quem compreende também ama, observa, vê...
Quanto mais conhecimento houver inerente a uma coisa, tanto maior o amor...
Aquele que imagina que todos os frutos amadurecem ao mesmo tempo, como as cerejas, nada sabe a respeito das uvas."
(Paracelso)

domingo, 17 de maio de 2009

Lembra-te que serás julgado pelo Deus em que acreditas...

Akabiah diz:
"Saibas bem três coisas e nunca mais pecarás:
De onde vens, para onde vais e a quem deves prestar contas."

sábado, 16 de maio de 2009

Apocalipse 21, 9: "Vem, mostrar-te-ei a Esposa, a mulher do Cordeiro."

Na postagem anterior fiz questão de esclarecer que as obras de Dan Brown são ficção. Porém, esqueci de mencionar que os argumentos que ele utiliza para formular a sua trama são VERDADEIROS!!! Estes argumentos estão distribuídos em inúmeros livros sobre o assunto. Livros publicados por ordens secretas (hoje não tão mais secretas assim), que questionam o abuso de poder da Igreja. Os evangelhos de Maria Madalena e de Filipe por exemplo, existem. Foram encontrados recentemente e cientificamente datados como contemporâneos a Jesus, embora a Igreja Católica não os aceite como verdadeiros. São os famosos apócrifos bíblicos que mencionei há algum tempo nesse blog. Na ocasião ainda frisei que não é do interesse da igreja que eles sejam considerados, pois ferem o poder patriarcal instituído por Pedro. Falei também sobre a autoria católica da compilação bíblica e o que penso a respeito de Pedro, que negou Jesus três vezes na mesma noite, e que ao meu ver, este seu ato o tornaria tão culpado quanto Judas, Caifaz e Pilatos. A igreja fundada por ele, segundo o revisionismo de alguns historiadores corajosos, rivaliza o priorado de Maria Madalena, esposa de Jesus.

Afirma sabiamente o historiador Walter Benjamin que a história é a voz dos vencedores. A história que nos foi contada sobre Jesus é uma edição daquilo que a Igreja no passado quis que soubéssemos sobre ele. O que não foi do seu interesse ela excluiu dos textos, abafando uma memória que poderia por em risco o seu poder patriarcal.

Embora seja uma obra fictícia, os elementos "heréticos" presentes no livro de Dan Brown possuem respaldo histórico documental e podem ser lidos e pesquisados por aquele que tem interesse. O que no meu entender compromete seu livro é o fato de ele ter criado uma trama que envolve a idéia de uma "teoria da conspiração". Isso confunde o leitor mal informado que não sabe discernir sobre quais elementos de sua história são fictícios e quais são documentadamente verdadeiros. E esta confusão faz com que as verdades que necessitam ser informadas se diluam no mar da ilusão. Mas afirmo novamente que seu grande mérito, sem dúvida é incomodar a igreja, abalar suas estruturas de verdades incontestáveis mostrando outras possibilidades, trazendo a mulher de Jesus para ocupar o papel que lhe é de direito.

Deus é o Todo. Mas para criar qualquer coisa ele precisou do masculino e do feminino. É só observar na natureza que nada pode existir sem a fusão dos dois gêneros. O gênero foi necessário à criação. A união dos dois pólos, dos dois gêneros completa o Todo: DEUS!!!

Se Deus nos deu inteligência é para que pensemos. Então usemos a lógica divina presente na Bíblia para analisar a questão: quando Deus criou o homem ele criou-lhe também uma companheira, Eva, pois Deus entendia que o homem não deveria viver só. Quando Noé fez a arca, Deus lhe pediu que selecionasse os animais em pares de gênero, para que assim a Terra pudesse ser habitada novamente. Para que Isaac existisse, Abraão precisou de Sara. E para Jesus existir Deus precisou de Maria. Pergunto: E por que com seu filho Jesus, Deus agiria diferente? Para toda a criação é necessário o elemento feminino, o receptáculo da vontade Deus.

Embora saibamos que a Bíblia tenha sido editada pela Igreja Católica, só temos essa documentação para estudar. Então analisemos o que é concreto, o que existe de fato. O Apocalipse, por exemplo, traz indícios da existência da ESPOSA do Cordeiro. Seguindo as profecias apocalípticas, a igreja sabe que tem seus dias contados. Diz no Apocalipse 19, 7 - 9 (A queda da Babilônia - alegria e triunfo nos céus)
"Regozijemo-nos, e alegremo-nos, e demos-lhe glória; porque vindas são as bodas do Cordeiro, e já sua ESPOSA se aprontou. (...) Bem-aventurados aqueles que são chamados à ceia das bodas do Cordeiro. E disse-me: Estas são as verdadeiras palavras de Deus."

Depois segue-se no capítulo 20 sobre os mil anos de reinado de Cristo. E no capítulo 21 menciona-se a nova terra: "E eu, João, vi a santa cidade, a nova Jerusalém que Deus descia do céu, adereçado como uma esposa ataviada para seu marido."

Capítulo 21, 9 sobre a nova Jerusalém: "E veio um dos sete anjos que tinham as sete taças cheias das últimas sete pragas, e falou comigo dizendo: VEM, MOSTRAR-TE-EI A ESPOSA, A MULHER DO CORDEIRO."
No mesmo capítulo no versículo 22: "E nela não vi templo, porque o seu templo é o Senhor Deus Todo-Poderoso, e o Cordeiro." (para mim essa passagem é marcadamente o fim da igreja)

E por fim no capítulo 22, 16 -17: "Eu, Jesus, enviei o meu anjo, para vos testificar estas coisas nas igrejas: eu sou a raiz e a geração de Davi, a resplandecente estrela da manhã. E o Espírito e a ESPOSA dizem: Vem. E quem ouve, diga: Vem. E quem tem sede, venha; e quem quiser, tome de graça da água da vida." (para se beber do cálice sagrado é necessário escutar o que a esposa diz)

Arranho um pouco de hebraico. Reconheço as letras e sei algumas palavras, mas confesso que meu conhecimento sobre grego (língua na qual foi escrito o Apocalipse) é um tanto limitado. Gostaria de saber como isso está escrito no original em grego, mas num primeiro momento acho que nos basta essa tradução, que traz evidências contundentes sobre a descoberta e o conhecimento da ESPOSA de Jesus. Se os companheiros quiserem podem conferir na Bíblia. A questão que estou levantando é que os dias de mentira da Igreja estão contados. A verdade sobre a esposa do Cordeiro virá a tona, pois assim diz a profecia...

"... fim de dois mil anos de trevas e mentiras... é chegada a hora dos mil anos de luz..."

domingo, 10 de maio de 2009

amor ao próximo...


Considero o hino ao amor, escrito pelo apóstolo Paulo em 1 Coríntios 13, uma das passagens mais belas e poéticas da Bíblia. A mensagem da caridade assim se inicia:

"Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, se não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o címbalo que tine. E ainda que eu tivesse o dom da profecia e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse caridade, nada seria. E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse meu corpo para ser queimado, se não tivesse amor, nada disso me aproveitaria."

E continuou nosso poeta Renato Russo...

"... é só amor, é só amor,
que conhece o que é verdade
o amor é bom, não quer o mal
não sente inveja ou se invaidece..."

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Sob o véu do símbolo...


Ai de mim se revelo e ai de mim se não revelo!
Se digo o que sei, os maus aprenderão a cultuar seu mestre;
se não digo, os bons companheiros continuarão
ignorantes da verdadeira sabedoria.
Mutus Liber, Livro I

Os mistérios do Egito
Alma cega! Arma-te do facho dos Mistérios, e na noite terrestre descobrirás teu luminoso Duplo, tua Alma celeste. Segue este guia divino e que ele seja teu Gênio. Pois ele tem a chave de tuas existências passadas e futuras.

Apelo aos Iniciados (segundo o Livro dos Mortos)
Escutai em vós mesmos e olhai no infinito do Espaço e do Tempo. Lá retumbam o canto dos Astros, a voz dos Números, a harmonia das Esferas. Cada sol é um pensamento de Deus e cada planeta um modo desse pensamento. Almas! É para conheceres o pensamento divino que desceis e subis penosamente a estrada dos sete planetas e seus sete céus. Que fazem os Astros? Que dizem os Números? Que rolam as esferas? - Almas perdidas ou salvas! Eles cantam, eles dizem, eles rolam vossos destinos!
(Fragmentos herméticos. In.: SCHURÉ, Édouard. Os grandes iniciados: Hermes)

Diz a esfinge: saber, querer, ousar e calar. Minha dúvida até então era: como falar aos que buscam o caminho sem revelar o segredo aos profanos?
A resposta que encontrei foi: por meio do SÍMBOLO!!! Desde os confins dos tempos, ele tem velado e revelado o grande mistério. Então, posso revelar algumas coisas, pois só aquele que tem as chaves (o conhecimento dos arquétipos simbólicos) entenderá a minha mensagem.

Sou grato Ao que do pó que sou
Me levantou.
E me fez nuvem um momento
De pensamento.
Ao de quem sou, erguido pó,
Símbolo só.
(Fernando Pessoa)

terça-feira, 28 de abril de 2009

Ensinamentos Herméticos...


Santo é Deus o Pai de tudo, que era antes do primeiro princípio;

Aceita as puras oferendas das palavras de uma alma e um coração elevados até Tua presença, Tu que as palavras não podem descrever, nenhuma língua pode expressar, a Quem só o silêncio pode declarar.

Ora àquele que é Único, pois só o pensamento pode "ver" o oculto e imanifesto. Mas se desejas ver Deus, contempla o Sol, a Lua, as estrelas, a natureza, as nuvens, os mares, os rios, as montanhas, o firmamento, o arco-íris, as árvores, as flores e tudo o que Ele criou. Pois só podemos vê-Lo com os olhos naquilo que é manifesto.

Deus faz o Éon
Éon está em Deus
A alma de Éon é Deus.

Éon faz o Cosmo
O Cosmo está em Éon
A alma do Cosmo é Éon

Éon faz o Tempo
O Tempo está no Cosmo
O tempo faz o Vir-a-ser.

terça-feira, 21 de abril de 2009

... e se o 666 for o www da internet?


Consta no capítulo 13 do Apocalipse:

"Aqui há sabedoria. Aquele que tem entendimento, calcule o número da besta; porque é o número de um homem e o seu número é 666."

A palavra "entendimento" em outras versões é traduzida também como discernimento.

Pois bem, tenho uma teoria: tenho razões para acreditar que o 666 mencionado no Apocalipse equivale ao www da internet, isto porque em hebraico as letras têm correspondentes numéricos:
1. aleph 12. lamed
2. beth 13. men
3. ghimel 14. num
4. daleph 15. samech
5. he 16. hain
6. vau 17. phé
7. zain 18. tsade
8. heth 19. coph
9. teth 20. resh
10. iod 21. schin
11. caph 22. thau

A escrita da fonética das letras hebraicas varia conforme a tradução. Optei por essa versão, proposta por Papus em seu estudo sobre a Cabala.

Como podemos observar a 6a. letra do alfabeto hebraico é o VAU, que tem como correspondente lingüístico em outros idiomas o "u", o "v" ou ainda o "w". Se convertermos para www, temos o 666 apocalíptico!!! É isso mesmo, o 666 pode muito bem ser o www!
A idéia da internet se encaixa perfeitamente ao "mentiroso", pois infelizmente muitos a usam para disseminar mentiras como sendo verdades. Já não sabemos o que é real e o que é fictício nos emails que recebemos. E pior, muitas vezes acreditamos nas barbaridades que são escritas. No mundo virtual, uma coisa escrita hoje, pode estar colocada totalmente diferente amanhã. No livro de George Orwell "A Revolução dos Bichos", há um momento que os bichos lêem uma frase escrita na entrada do celeiro, no outro dia as palavras mudam de lugar, algumas surgem e outras somem, passando idéias completamente diferentes da originalmente grafada. Então, eles já não sabem dizer o que é verdade e o que é mentira. E isto é o que mais acontece nessa maravilha da internet. Já não vivemos sem ela. Necessitamos dela para o nosso dia-a-dia. Nossa cabeça (olhos e testa) está sempre direcionada para o monitor e nossas mãos (principalmente a direita), estão marcadas pela tendinite. Será que ao sentarmos em frente ao computador diariamente, não estamos cultuando a Besta? Será que o espaço reservado ao computador em nossas casas não é também um altar ao mundo vitual, à Besta? É bom pensar a respeito...

Mas há um pequeno problema aqui, o livro do Apocalipse foi escrito em grego e não em hebraico!!! E o alfabeto grego é composto por 24 letras, sendo a 6a. o "zeta", o que desmonta a minha teoria. Uffffa, que alívio!!!
1. alfa 13. ni (nu)
2. beta 14. xi
3. gama 15. ômicron
4. delta 16. pi
5. épsilon 17. rô
6. zeta 18. sigma
7. eta 19. tau
8. teta 20. úpsilon
9. iota 21. fi (phi)
10. kapa 22. qui (chi)
11. lâmbda 23. psi
12. mi (mu) 24. ômega

Aqui também existem variações da escrita fonética das letras.

Então, não estamos agora em frente à Besta... Ou estamos, já que o idioma mais falado na Judéia era o hebraico... Hum...
Bom, independente dessa minha teoria maluca (mas nem tanto assim), a dúvida que paira sobre o assunto é: podemos confiar na palavra escrita?
Jesus não escreveu uma letra sequer dos textos bíblicos. Tudo o que sabemos sobre ele foi escrito por outros e não por ele. Sabemos portanto, o que foi dito sobre ele. Sabe-se que Jesus falava aramaico (fato difundido no filme do Mel Gibson). Sabe-se também que a antiga província romana da Judéia tinha o hebraico como língua falada, embora o latim já fosse a língua oficial. Porém, os textos do Novo Testamento foram escritos em grego, pela própria peregrinação dos apóstolos pelas antigas cidades gregas. Nessa confusão do "disse e foi dito" acompanhado das interpretações posteriores, ficam as dúvidas que nos remetem novamente ao labirinto das palavras.

Não estou pregando contra a internet. Eu mesma a utilizo constantemente nas minhas pesquisas e trabalhos. Ela elimina a necessidade de papel, o que significa uma árvore a mais no mundo. No entanto, devemos refletir a respeito, com um olhar crítico e discernimento, sobre aquilo que lemos no mundo virtual. Será que aquilo que está escrito naquele site ou naquele blog realmente faz sentido? Será que o que está sendo dito tem coerência? Qual a distância entre a liberdade de expressão e a pregação de uma verdade? Hum... Oh! Deus por que me destes inteligência, sou obrigada a pensar...
Então, antes de "repassarmos" aquele email com notícias bombásticas devemos verificar a veracidade daquilo que estamos disseminando, ou estaremos colaborando com o falso profeta e o grande mentiroso... seja a internet a Besta ou não, pois diz o 8o. mandamento "Não levantar falso testemunho!"

Este texto não tem caráter de pregação de verdade e sim de ponto de vista. É uma reflexão pessoal sobre os bons e maus usos da tecnologia na modernidade. Este foi apenas um meio que encontrei para chamar a atenção para uma reflexão sobre aquilo que lemos e tomamos como verdade... As pessoas adoram uma notícia sórdida e não tardam em divulgá-la. Mas não é esse o meu objetivo. Minha intenção aqui é alertar sobre os perigos da palavra escrita no mundo virtual... a minha inclusive, pois como ser humano, não estou acima do bem e do mal ;)

segunda-feira, 20 de abril de 2009

O anjo de Gaia...


Esta imagem é uma representação gráfica do Sol emanando seus ventos no sistema solar. As linhas são os efeitos do campo magnético do nosso planeta. E a pequena bolinha azul é a Terra. Esses ventos são chamados de tempestades geomagnéticas e acontecem quando um grande fluxo de radiação emitida pelo Sol atinge o campo magnético e a atmosfera da Terra. O distúrbio ocorre quando há ejeções maciças de massa da coroa solar. Quando essas fortes rajadas de vento solar atingem a Terra, fazem com que as ondas de radiação se choquem com a magnetosfera, alterando a intensidade e a direção do campo magnético. Em casos extremos podem causar quedas de energia elétrica, interferência no funcionamento dos satélites e nos instrumentos de navegação, com efeitos imprevisíveis sobre o clima. Os espetáculos luminosos produzidos pelas tempestades geomagnéticas são conhecidos como aurora boreal e austral e observá-los é uma experiência única.

A maioria das pessoas que visualiza esta imagem vê uma aranha. Curiosamente, eu vejo um anjo. E prefiro acreditar que seja o anjo de Deus que cuida da sua criação, o nosso planeta... a Terra, a grande mãe Gaia.

sábado, 18 de abril de 2009

Ao mestre com carinho...


Lâmpada Inextinguível

Onde quer que tu vás, peregrina beldade,
Quero que te acompanhe a profunda certeza
De que não acharás em toda a natureza
Quem te consagre assim o culto da AMIZADE;

E saberás que o amor vence a fatalidade,
Quando amor ideal, em toda a pureza.
Pode a mulher ceder; não cede o homem, nobreza
Não cede nem à dor, nem cede à iniquidade.

Mas, que digo?! Cruel que sou quando te ofendo!
Pobre arcanjo do céu que aos poucos vai perdendo
A graça do sorrir na chama em que se abrasa!...

Triste irmã que me estreita, em efígie, ao seio flébil,
Como é forte a tua alma em teu corpo débil,
Como é puro esse amor, como é branca a tua asa!
(Dario Vellozo)

Retiro Saudoso, 13 de agosto 1916.

A Babel de nossos dias...

A palavra Bíblia quer dizer reunião de livros, sendo ela composta por textos do Velho e do Novo Testamento. É sabido que os textos bíblicos foram escritos em três línguas: grego, hebraico e aramaico. Até o século XV somente o clero católico tinha acesso às escrituras e as tentativas de tradução foram duramente reprimidas. Durante a Renascença aconteceram inúmeros movimentos de retomada dessas antigas escrituras, sendo Lutero um dos precursores, gerando o que viemos chamar de Reforma Protestante... E a Bíblia enfim, foi traduzida. Bom, vejo aqui três problemas: primeiro a compilação; segundo a tradução; e terceiro a questão da interpretação.

A compilação bíblica (reunião dos textos sagrados) foi feita por volta do século IV d.C., embora os textos sejam muito mais antigos, e foi a Igreja Católica (a única que existia até então) quem decidiu e escolheu quais textos fariam parte das sagradas escrituras e quais seriam relegados ao esquecimento. Portanto, a Bíblia que conhecemos hoje, é uma construção católica. Foi o clero que decidiu quais Evangelhos seriam divulgados. O Vaticano ainda guarda em seus arquivos, a mil chaves, documentos que contradizem as suas verdades dogmáticas colocadas na Bíblia. E infelizmente não podemos fazer nada quanto a isso. Vez por outra, algum historiador corajoso divulga algum achado de textos, tão antigos ou mais que os bíblicos, mas que não fazem parte do Cânon das escrituras "autênticas", tornando-os sempre objeto de polêmica e desconfiança. Os manuscritos do Mar Morto são um exemplo disso. Tais textos recebem o nome de "apócrifos", isto é, são obras não autorizadas e de veracidade não comprovada, do ponto de vista da igreja, não aceitas como verdadeiras (por conveniência, é claro). No entanto, são textos antiqüíssimos e cientificamente datados, mas que incomodam a manutenção do poder secular. Se por um lado as centenas de igrejas atuais renegam a autoridade católica, por outro usam a sua compilação para pregar as suas verdades, pois a Bíblia é uma construção da Igreja Católica e não há como refutar essa evidência. Vejo um nó incômodo nessa questão.

Segundo ponto: a tradução. Traduzir uma língua é buscar um equivalente significativo em outra língua que expresse a idéia da língua original e conserve a sua mensagem. Porém, há expressões e idéias que não encontram tal equivalência. O escritor Humberto Eco, em "Quase a mesma coisa", explorou brilhantemente essa questão. Uma tradução também depende do sentido atribuído ao objeto dado pelo tradutor. Muito se perde e muito se cria nessa dinâmica de equivalência lingüística. As palavras de um idioma são fruto das relações culturais e sociais praticadas por uma dada sociedade que fala uma determinada língua. A língua é um elemento vivo. Ela tem a propriedade de conservar alguns sentidos e inverter outros com o passar dos tempos. Por exemplo: a palavra abrigo que hoje significa fechado, vem do latim apricus, que queria dizer aberto; a palavra obeso, que em seu sentido atual quer dizer gordo, tem sua origem no latim obesus e significava fraco, delgado; e ainda aperitivum que significava purgante, hoje é usado no sentido de abrir o apetite. Portanto, a língua sofre mutações ao longo dos tempos, o que quer dizer que as traduções de expressões antigas podem estar equivocadas. O que pretendo mostrar aqui, é que os pretensos leitores da palavra sagrada, defensores ferrenhos e fundamentalistas da exegese, deveriam lê-la no seu idioma original, em grego, hebraico e aramaico, para assim chegarem mais próximo ao verdadeiro sentido que lhe foi dado por seus antigos autores. O que se lê hoje vem carregado de glosas, mudanças de sentidos e reinterpretações dada por cada tradutor e por cada leitor ao longo dos anos, pois entre o texto bíblico e o contexto de entendimento, muito se agrega e muito se retira do seu sentido primordial.

Finalmente o terceiro ponto espinhoso: a interpretação. Calvino, durante os anos da Reforma, ingenuamente acreditou que seria possível apenas uma única interpretação da palavra. Mas ele estava redondamente enganado. Interpretar é atribuir sentido a algo, dar um entendimento. Eis o grande problema dos nossos dias. Em meio a tantas traduções e intermediários que interpretam a Bíblia pelo leitor, temos uma palavra, a Bíblia, compreendida de várias formas. Uma verdade entendida como várias. Me pergunto se não estamos revivendo uma versão mais moderna da Torre de Babel (não por acaso uma antiga biblioteca), onde vemos a palavra primordial, a língua prima se transformar em várias verdades, decorrentes de várias interpretações. Ou, não teríamos tantas igrejas e tantas religiões, cada uma interpretando a Bíblia do jeito que lhe convém. E o que dizer dos intermediários que interpretam a Bíblia por nós? Será que individualmente não somos capazes de ler e entender por nós mesmos? Já vi algumas versões que trazem a interpretação das passagens simbólicas e metafóricas em nota de rodapé, retirando do leitor o seu direito de interpretar. O mito da Torre de Babel está mais atual do que nunca, pois de uma única língua fizeram várias... tornando-a motivo de discussões, guerras e disputas de poder. Concluo tristemente que ainda que eu falasse a língua dos homens e falasse a língua dos anjos, seria apenas a minha interpretação...

Se os heróis de Cazuza morreram de overdose, os meus morreram na fogueira...

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Brincando de ser Deus...


"Naquele dia, por acaso, João fez uma coisa não muito comum: pegou o jornal que seu pai havia deixado num canto e começou a folheá-lo; de repente, viu uma foto que o deixou chocado: sobre uma placa de vidro num laboratório havia um ratinho. Mas um ratinho muito esquisito: em suas costas, havia uma enorme orelha humana! João curtia filmes de ficção, daqueles cheios de efeitos especiais, com criaturas horrendas e muita gosma escorrendo. Mas uma coisa é você se divertir com a idéia fantasiosa de algo nojento; outra, muito diferente, é você ver o resultado de uma experiência estranha, e que você sabe que é verdade. Pelo resto daquele dia, e em muitos dias seguintes, João não conseguiu deixar de pensar naquilo. Quais seriam os limites para a ação do homem? Será que agora ele havia começado a pensar que é Deus?"

Quando uma atividade humana provoca discussões a respeito de ser moralmente boa ou ruim, estamos falando de ética. De um modo geral, não se costuma avaliar cada atividade desenvolvida pelo homem sob esse ponto de vista, pois a sociedade já estabeleceu os parâmetros do bem e do mal para a maioria de suas esferas. Por exemplo, roubar é considerado um mal, enquanto que ações beneficentes são um bem. Mas a ciência, no entanto, está levantando, com suas descobertas, uma série de questões que precisam ser eticamente avaliadas, exatamente por serem decisões que a raça humana nunca se deparou antes. Com o avanço da engenharia genética, um novo desafio ético se nos apresenta. A esse respeito, devemos refletir se pais têm direito de abortar um filho, caso este não corresponda às expectativas físicas e psicológicas desejadas; se é correto criar clones de pessoas para utilização de seus órgãos; se é aceitável clonar-se a si próprio ou um filho que já morreu. São muitos os prós e os contras dos argumentos dessa questão, a qual traz consequências dramáticas para as práticas sociais de um futuro bastante próximo.

Mas por que alguns desejariam clonar seres humanos?

A clonagem é possível em diversas espécies. Dolly é uma realidade. E estamos cada vez mais próximos da clonagem humana. As razões apresentadas até hoje para essa ação são as mais variadas, as quais vão desde a produção de doadores de órgãos, à fabricação de exércitos de indivíduos "superiores". Loucura?!... Nem tanto. Talvez a idéia da criação de um exército de humanos superiores, hoje seja uma fantasia, mas já fez parte de ideologias bizarras reminiscentes da ariosofia. Na literatura, no clássico Admirável Mundo Novo, Adolus Huxley também concebeu uma sociadade nesses moldes.

Atualmente a prática do plantio de alimentos transgênicos têm suscitado debates fervorosos, pois não há pesquisas suficientes sobre os efeitos do consumo pelos seres humanos. Já os animais criados artificialmente não têm sido economicamente interessantes, pois são mal-formados e parecem não ser tão saudáveis quanto se imaginava. No entanto, daqui há alguns anos, as técnicas poderão se aprimorar o suficiente para viabilizar comercialmente esses empreendimentos, bem como as idéias fantasiosas de exércitos de homens geneticamente superiores. Mas pensemos o que seria esse conceito de "superior": Mozart ou Hitler?! Dependendo do ponto de vista, relativiza-se essa discussão. Na verdade, a questão a ser colocada é se devemos permitir a criação de uma raça humana como gados programados e geneticamente selecionados.

Outra razão absolutamente fantasiosa para a justificativa da clonagem de seres humanos está inscrita na vaidosa frase "eu quero ser jovem para sempre". Essa busca atualmente se reflete nas milhares de cirurgias "puxa daqui, puxa dali", feitas por muitas pessoas da nossa sociedade. Há quem acredite que se vier a morrer por acidente, doença ou velhice, e seja clonado, poderá recomeçar a sua vida de novo, e, se fizer isso sucessivamente poderá atingir a vida eterna!... Hum... Vejamos o que acontece com os clones naturais, os gêmeos univitelinos. Cada um desses indivíduos, embora com mesma bagagem genética e cultural, possui uma consciência própria e experiências individualizadas. Portanto, são indivíduos diferentes! Um clone não pode herdar o conhecimento e a experiência da sua matriz, pois estes fatores não estão inscritos no genoma humano.

E finalmente uma outra razão a se discutir, é que algumas pessoas vêem na clonagem a possibilidade de reaver um ente querido falecido. A partir de poucas células desse indivíduo poder-se-ia (em teoria), ressuscitá-lo!!! Por mais absurdo que essa idéia possa parecer, pensemos na dor de pais que perdem um filho amado. A eles possivelmente, é quase irresistível a idéia de driblar a inevitável irreversibilidade da morte e recomeçar a vida do filho. É a idéia explorada pela terrível história de Stephen King "Cemitério Maldito"... Triste, mas compreensível.

Queiramos nós ou não, a clonagem já acontece em pesquisas oficiais e clandestinas. A única coisa que nos resta é debater a questão ética que envolve o assunto, para que assim se possam regulamentar as pesquisas e instituir os limites da ação humana na criação. Mas por que esse é um assunto importante para a sociedade? É importante porque infelizmente o homem tem usado a ciência para matar, dominar, submeter e lucrar, ou os governos não teriam investido milhões de dólares na construção de bombas nucleares... (assunto que será discutido um outro dia).

O outro lado dessa história, é que apesar da ciência ser usada por alguns para a morte e para o mal, outros a utilizam em benefício da humanidade. O computador, por exemplo, permite às pessoas o acesso à informação como jamais foi imaginado até então. A agricultura tem superado as previsões de fomes mundiais em decorrência da superpopulação. A fissão do átomo é uma alternativa de energia limpa. E as células troncos são a esperança de cura para muita gente.
Penso eu que a ciência está a serviço da humanidade, e é assim que ela deve ser concebida.

Chagall: o poeta das cores...


Além de anjos e tatuagens, cultivo uma outra paixão: Marc Chagall, o poeta com asas de pintor. Chagall nasceu na antiga Rússia-czarista, hoje Bielo-Rússia, em 07 de julho de 1887. Teve uma vida marcada por guerras e revoluções que influenciaram a aura de suas experiências, transmutadas nas imagens poéticas que pintou. Em tela, criou seu próprio mundo colorido, habitado por anjos e por memórias melancólicas de sua infância e de sua doce amada. Judeu, foi preso na França em 1941 pelos nazistas, por sua arte "degenerada". Mas foi libertado em seguida, graças à intervenção de amigos americanos, fugindo então para o exílio, onde sofreu duplamente: pela angústia da guerra e pela perda de Bella, amor que nunca esqueceu. Morreu em 1985, aos 97 anos, ainda em plena atividade.

Admirar a obra de Chagall é uma viagem à terra dos sonhos. Suas cores, matizes e formas poéticas encantam a alma. Não tenho dúvidas que Chagall foi um daqueles homens preciosos inspirados por anjos divinos. Diz-se que certa vez, ao terminar um vitral de uma catedral, contemplou brevemente a sua criação e comentou com um sorriso terno "Acho que Rembrandt ia gostar de mim..."

Com certeza Deus também se apaixonou pela beleza de sua arte, ou não teria permitido sua exitência de 97 anos, salvando-o da Rússia revolucionária e das duas guerras. Deus gostava dele por aqui... pois Chagall soube, como nenhum outro pintor, mostrar o espelho da imagem refletida de Deus. Pintou o Deus que tinha dentro de si...



domingo, 12 de abril de 2009

Será que somos apenas fruto do mero acaso?


“As mais importantes revoluções na história da ciência tiveram como seu tema comum o sucessivo destronamento da arrogância humana de um pilar após o outro de sua antiga segurança cósmica. Uma vez pensamos que vivíamos no centro de um universo limitado, até que Copérnico, Galileu e Newton identificaram a Terra como um pequeno satélite de uma estrela marginal. Então nos confortamos com a idéia de que Deus tinha, entretanto, escolhido este local periférico para criar um organismo único à Sua imagem. Mas daí veio Darwin e relegou-nos a descender do mundo animal, nos desbancando da idéia de sermos os escolhidos."

(Stephen Jay Gould)

Os prazeres da carne...


A revista Scientific American de março de 2009, publicou uma matéria, de autoria de Igor Zolnerkevic, intitulada "Efeitos globais do bife brasileiro", onde relaciona os problemas do efeito estufa do país com o dematamento para pastagens na Amazônia e os gases liberados no processo digestivo do gado. Embora eu seja vegetariana, não sou uma militante Vegan, mas os dados científicos me deixam preocupada.

O homem desde a pré-história é carnívoro e herbívoro. A carne historicamente sempre esteve no cardápio dos povos. Mas antigamente não havia uma indústria da carne. Os homens caçavam e consumiam a carne para sobreviverem. Ela também figurava nos momentos festivos e por vezes havia um ritual para o sacrifício do boi, do carneiro, ou outro animal qualquer. O que ocorre é que o mundo moderno nos colocou um novo desafio: uma superpopulação que precisa ser alimentada. Mas alimentar com carne toda essa gente tem custado muito à natureza e as consequências desse hábito cultural têm sido sentidas nas catástrofes climáticas que acontecem cada vez com mais frequência. Isso sem contar na crueldade do abatimento dos animais. Além disso, a carne também tem sido veículo de doenças e graves problemas de saúde, lembremos do "mal da vaca louca", da gripe aviária e da obesidade dos consumidores de "Mac mata aos poucos" que susbtituíram o delicioso feijãozinho da mamãe.

Talvez futuramente os cientistas consigam provar que a carne de hoje tenha os mesmos efeitos dos cigarros, que se lembrarmos teve defensores dizendo que não eram nocivos.

Uma carteira de cigarro hoje traz imagens chocantes de pessoas doentes devido ao seu consumo. E ainda assim, muitos brasileiros e não brasileiros os consomem compulsivamente. Porém, já não podem mais processar a indústria do cigarro, pois o aviso está na carteira e o ato de se matar lentamente é do livre arbítrio de cada um. Mas a carne é um pouco diferente, pois é um hábito cultural milenar. E talvez esteja na hora de revermos este hábito, assim como revimos hábitos antigos de escravizar outros seres humanos como infelizmente aconteceu, vê-los lutar até morrer como faziam os romanos ou ainda levá-los à fogueira quando discordavam das verdades absolutas. Graças a Deus este tempo passou!!! Mas agora o tempo é outro e está na hora de revermos nossos conceitos.

Então quando a água faltar, chover demais, houver furacões insperados, seca, doenças..., pense no prazer imediato que a carne lhe proporcionou. Talvez daí sim, haja uma conscientização.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Transmutação do sabor...

Toda a matéria na natureza passa pelo processo de maturação. Tudo nasce, se desenvolve, cresce, envelhece e morre. A matéria morta se decompõe e vira novamente outra matéria. Pensemos numa semente que germina, cresce, vira uma árvore que dá folhas e frutos. Ao seu tempo de maturação, as folhas e os frutos caem e apodrecem (se não forem colhidos e comidos, é claro), retornam à terra, se decompõem e viram adubo, alimentando a terra para que novas sementes ali possam germinar. Essa é a ação da natureza que para cada ser ou coisa existente, tem o seu tempo de maturação.

Ao observar os ciclos naturais, pode-se por meio da alquimia se acelerar o processo de maturação da matéria transmutando-a. Transmutar significa transformar a matéria que se encontra num estado, noutra coisa (de mesma natureza, é claro). Os alimentos que comemos passam por esse processo. Podemos cozinhá-los, assá-los, fritá-los, defumá-los, ou apenas maturá-los. Um peixe assado, frito, ou cozido, ainda continua a ser um peixe, embora em estado modificado pela ação do fogo. O fogo é um dos principais elementos usados pelos alquimistas, pois ele matura a matéria. O vinho e o queijo no entanto, sofrem um processo diferente. O queijo é o leite amadurecido e depois putrefato. Sim o queijo é leite em estado alterado e em processo de decomposição de bactérias e fungos. O tipo de fungo presente no queijo é o que dá a qualidade do queijo. O saboroso queijo gorgonzola por exemplo, é produto da ação de determinados fungos (aquela coisa verde) na maturação.

Um cozinheiro portanto, é um alquimista!!!! Ele tem o poder mágico de transformar uma simples abóbora num grande banquete. A alquimia de um prato é o que o torna tão especial. No filme “Como água para chocolate” é explorado a magia da comida de uma cozinheira. Os sabores de seus pratos acompanham os seus estados de humores, os quais interferem no gosto da comida. E qual será o segredo do feijãozinho da mamãe? A resposta já conhecida de todos: o amor.

Se o estado de espírito do cozinheiro influencia no sabor da comida, como ficam os alimentos industrializados ou feitos pelos “Mac qualquer coisa” da vida. A resposta também já é conhecida...

Em homenagem aos alquimistas da cozinha que cercam a minha existência darei duas receitas mágicas: da Déia e do Rafa.

Receita para ser feliz à moda da madrinha

Ingredientes:

  • 1 punhado de paixão do padrinho;
  • 6 rodelas de amor de irmãos;
  • 6 colheres de carinho dos sobrinhos;
  • 1 xícara de sorriso;
  • 70 gramas de amor de pai;
  • 3 pitadas de obediência do cachorro;
  • 4 fatias de respeito e atenção dos alunos;
  • 21 gramas de admiração dos amigos;
  • 1 gostosa dica do livro da Dona Benta;
  • 6 xícaras de alegria dos afilhados;
  • 1 pitadinha de irmãzinha nova;
  • Passeios de moto à gosto;
  • Para rechear: muita sorte de quem nasceu no dia dos namorados;
  • E boas lembranças para polvilhar.

Modo de fazer:

Numa panela, misture todos os ingredientes até obter uma massa colorida e “amorgênea” e deixe crescer, crescer, crescer bem feliz. Aquecer com cobertor quentinho, pipocas mágicas e filminhos divertidos. Cobrir com beijos adocicados da madrinha e pronto!!!


Pão de Eros:

Ingredientes:

1 kg de farinha de trigo comum;

200 g de farinha de trigo integral grossa;

35 g de fermento natural;

800 g de água da fonte;

30 g de sal;

230 g de nozes;

amor à vontade;

Modo fazer:

Misturar os ingredientes secos, adicionar a água e o fermento, e amassar. Depois que a massa estiver pronta, acrescentar as nozes. Assar em forno pré-aquecido 250º C por 1 hora.


segunda-feira, 6 de abril de 2009

Mutus Liber







"Ora,
lege, lege, lege, relege,
labora et invenies!”


"Reza,
lê, lê, lê, relê,
trabalha e encontrarás."

Livro Mudo da Alquimia

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Wings...



Cônscio de não crer, sentia-me culpado em meio a tantos que criam. Ao sentir que estavam certos, decidi também crer, assim como quem toma uma aspirina. Mal não faz, e nos sentimos melhor.

Umberto Eco – O Pêndulo de Foucault

terça-feira, 31 de março de 2009

metamorfose...


A origem da expressão “Alquimia” parece ser um tanto obscura. Muitos concordam que o prefixo “Al”, que funciona como artigo, pode ter vindo do árabe. Lembremos do domínio árabe na Europa a partir do século VIII. Foram eles os grandes responsáveis pela divulgação dos textos alquímicos entre os ocidentais. “Quimia” por outro lado, parece ter outras possibilidades de origem. Pode ter origem chinesa e mesmo egípcia, onde “chimia” significa terra negra. Em grego encontramos “chyma” (fundição de metais) e “chymos” (humor). A palavra pode ter também relação com “Can”, filho de Noé, que teria salvo os conhecimentos pré-diluvianos. Outra referência é “Chema”, anjo caído mencionado nos Apócrifos, que teria transmitido aos homens a arte da Alquimia. E ainda, “Al Chama”, pesquisado por intermédio do fogo, em árabe.

Num antigo texto helenístico referente à alquimia intitulado A Profetisa Ísis para seu filho, Ísis revela como obteve de um anjo, que a desejava, o grande segredo da técnica egípcia da alquimia. Esse encontro aconteceu num momento favorável da posição dos astros no céu: o Kairos, o "momento favorável", que domina um dos aspectos da alquimia. É a relação entre o macrocosmo e microcosmo. O anjo lhe revelou não somente receitas mágicas para a obtenção do ouro alquímico; mas também, a necessidade da união dos opostos para consegui-lo, no momento favorável; o que é expresso pela exortação final de Ísis a seu filho Osíris: “De modo que tu és eu e eu sou tu”.

Mas quem eram os alquimistas?

Seguramente eram pesquisadores! Um castelo distante, um laboratório escuro, cheio de engenhocas, a parafernália de tubos de ensaio, líquidos coloridos, pinças, assopradores, balança, cadinhos, potes de louça, substâncias estranhas, fervuras, cheiros, restos mortais de animais e de plantas compõem a imagem consagrada do alquimista, imagem esta que se funde à imagem do mago e do cientista e que parece se confundir no labirinto dos tempos. O mago, o alquimista e o cientista, na verdade são variações da mesma intenção científica. Embora, variem suas filosofias, suas verdades, seus objetos, suas convicções e seus contextos históricos. Mas a princípio eles retratam o pesquisador, interessado pela natureza em seus tempos e contextos.

A observação da natureza demonstra que na natura tudo é cíclico. Tudo obedece a estágios de existência e maturação. Da lagarta que se metamorfoseia em borboleta à uva, que vira vinho, que vira vinagre. Tudo se transforma naturalmente. Porém, tudo, inclusive a natureza, está submetida ao tempo. Tudo tem seu tempo de maturação. Nesse sentido, os alquimistas acreditavam que seria possível ao homem “acelarar” esses processos naturais de maturação por meio de uma intervenção que, manipulando os estágios, o conhecer e fazer, conseguir-se-ia transmutar a matéria. A transmutação, portanto, é a “aceleração” dos processos naturais da matéria, a partir da idéia hermética de um modelo de explicação da natureza, de que tudo vem de uma única matéria, uma matéria prima. Ao seguir a natureza, por meio das ciências naturais, a Alquimia poderia assim imitá-la e dominá-la.