domingo, 30 de novembro de 2014

a pena de Miguel...



uma brisa passou por mim... alguns dizem que isso é "amor"... não, não é amor, amor é um sentimento humano demais para alguém como eu... não posso e não devo amar (regra de ouro do alquimista)... mas eu sei que é inspiração do vento mercurial das penas das asas de Miguel...

Ah!... A primeira linha escrita dos pensamentos que querem se libertar e toca a alma daquele que lê... eu gosto de ler pensamentos... com sentimentos profundos como os de Clarice, do Pessoa, do Saramago...  Passei três anos lendo os pensamentos de Dario Vellozo, um homem distante de mim por século de tempo, que me encantou profundamente... 

Hoje leio os pensamentos de Miguel...
Miguel existe, mas não sabe e nunca saberá que eu existo... não me interessa o que faz, onde vive, com quem vive... interessa-me apenas a pena que escreve seus pensamentos... sobre maçãs, quedas, perfumes de espíritos jovens e anjos suicidas... 
Miguel é um cabalista, sem o saber, ou talvez saiba e não revele que sabe... domina a ciência do verbo dos anjos... e sua pena é tão tristemente leve... desliza palavras cheias de sentimentos tímidos e sombrios por Valéria, que sei que manifesta Beatriz...
nunca o vi escrever uma poesia, mas já o vi falar da influência que teve de Dostoiévski... será que ele leu Noites Brancas, obra quase desconhecida de Dostoiévski... eu li...

Ele está... aqui e ali... naquilo que escreve... gosto de contemplá-lo, olhar de longe sem interferir com minha presença... não devo jamais tocá-lo, sob a pena de que morra ou vire areia...

Miguel, Miguel, Miguel... Não importa quem é Miguel...
apenas importa a sua pena que escreve que há penas...

uma pena para escrever...


Uma noite simbólica
Fui por a Sara, filha de minha amiga Roberta, para dormir e li um livro para ela "Os Fantásticos Livros Voadores do Senhor Morris Lessmore" de William Joyce...
A Ro já tinha me falado desse livro... Admiro quem escreve de forma simples, compreensível e instigante para uma criança de 6 anos... Esse é dom de poucos... e quando se comove um adulto, é um dom quase divino... Depois, rezamos a oração do Santo Anjo, igualzinho como fazia com meus filhos quando pequenos... Assim como Morris Lessmore eu também quero escrever um livro sobre as "alegrias e tristezas" de existir... para quem sabe um dia uma criança ler... sim, uma criança, pois têm coisas que só as crianças entendem...

“As histórias para crianças devem ser escritas com palavras muito simples, porque as crianças, sendo pequenas, sabem poucas palavras e não gostam de usá-las complicadas. Quem me dera saber escrever essas histórias, mas nunca fui capaz de aprender e tenho pena. Além de ser preciso escolher as palavras, faz falta um certo jeito de contar…” 
(Saramago)

sábado, 22 de novembro de 2014

o horizonte permanente...

Deja que venga lo que venga, deja ir lo que se vaya. 
Ve lo que permanece.
(Ramana Maharshi)

In: Taroteca Uruguay
 https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1511177899160867&set=a.1450569745221683.1073741836.100008060140583&type=1&theater

loin des yeux, loin du coeur...


domingo, 16 de novembro de 2014

Buenos Aires e os anjos que choram...

Recentemente fiz uma viagem a Buenos Aires, uma cidade não muito apropriada para pessoas melancólicas e solitárias como eu. Era uma viagem que eu queria fazer sozinha... Fui no dia 30 de outubro, passei o dia das bruxas, o dia de todos os santos e o dia dos mortos. Me programei para ir àquela bela livraria do teatro, ver sebos, museus e ir ao cemitério. Coisa de historiador livreiro. Mas choveu todos os dias... olhando as ruas, parecia que elas choravam, parecia que os prédios choravam, as árvores choravam, as janelas choravam...
No dia que tentei conhecer a Praça Rosada choveu e ventou muito... nesse dia chorei de frio... me refugiei no Museu Bicentenário... Almocei por lá: ensalada e vinho... Como ainda chovia, sentei para ver um filme sobre as mães da Praça de Maio... chorei mais ainda... chorei por mim, pela minha mãe que está muito doente, pelas mães argentinas, pelo clima pós eleição tenso no Brasil com gente pedindo a volta da ditadura...chorei... chorei... chorei.
No domingo pela manhã fui à feira de San Telmo, mesmo com chuva... Não consegui ver nada e de novo me refugiei num lugar quente: um café... Ali eu passei a manhã, li um livro que eu tinha comprado no aeroporto, A maçã envenenada, que fala dos sentimentos solitários e sombrios da geração perdida que curtiu Nirvana nos anos 90, uma identificação com aquilo que fui e talvez ainda seja. Depois fui ao cemitério da Recoleta, queria ver os anjos que ali guardam as memórias. Era dia dos mortos e ainda chovia, chovia muito... Mas mesmo assim, com um guarda-chuva, caminhei por entre os túmulos. Visitei o túmulo de Evita, curiosamente tão simples naquele imponente jardim de almas. Por causa da chuva, os anjos que decoravam as tumbas pareciam estar chorando... Tudo a minha volta chorava, eu, o dia, o tempo, os anjos, a eternidade... Levei um vestido, o meu mais belo vestido. Quis deixar ali o que eu tinha de mais bonito, o símbolo máximo do que poderia ser a materialidade de um sentimento: um exercício de desapego. Cantei, chorei, enxuguei as lágrimas no vestido, cantarolei por entre os túmulos, acho que cantei toda a minha dor... queria que ela ficasse ali, com todas as minhas frustrações, os meus arrependimentos, as ilusões e desilusões, as saudades daqueles que partiram para longe, saudades daqueles que partiram para não mais voltar, os meus desamores, os sentimentos platônicos e a saudade de um tempo que nunca foi. Yo estaba bien por un tiempo, volviendo a sonreír, Luego anoche te vi, tu mano me tocó, y el saludo de tu voz, Y hablé muy bien de tu, sin saber que he estado llorando por tu amor. Em espanhol, porque eu sou uma leonina dramática... Pedi licença aos que repousam e depositei o vestido numa tumba, já tomada por uma vegetação e abandonada pelo tempo, tempo de que não se tem memória... Devo ter ficado umas 3 horas chorando na chuva. Depois saí do cemitério e entrei em um restaurante, tomei mais vinho e até comi de verdade: cogumelos com queijo. E eis que começou a tocar exatamente a música que eu cantei para esquecer... como se um fantasma me perseguisse... e insistisse em se alimentar das minhas lágrimas... se é Deus, ou os anjos, ou a minha própria mente que faz isso, eu não sei... realmente não sei explicar... mas creio que ali deixei o que queria deixar... 
Quanto aos mortos, a eles vivo e dedico todo o meu trabalho... me sinto bem entre eles... posso ouvi-los... e dou-lhes voz... e eles sempre choram aquilo que não conseguiram dizer... Walter Benjamin diz que são os historiadores que os redimem... pois escrever sobre os mortos é sempre um ato de redenção...

Para 2015, estou com viagem programada para o día de los muertos para o México, mas lá será festa... quero festejar com os mortos e não mais chorar por eles...

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

asas do tempo...

antigamente o tempo tinha asas, hoje ele tem pés...
eu: nem pés, nem asas
só tenho tempo...

domingo, 9 de novembro de 2014

o último símbolo...

Minha saudosa professora de Astrologia, Joana, dizia que não precisamos buscar os livros, eles nos buscam... Curiosamente, anos depois, recebi um conselho semelhante da minha orientadora "Você acha que o que você busca está nos livros. Os livros falam quando nos querem falar..."
Depois de muito buscar, ontem, finalmente, achei o último símbolo a tatuar, para completar as 49 tatuagens (7 X 7 o número da magia)... Achei-o em um livro sobre magia mexicana na casa de minha querida comadre. Ele sintetiza várias referências que têm significado para mim. Lembra o caduceu de Mercúrio (símbolo do hermetismo), uma coisa meio a capa do álbum do Nirvana, asas de anjos, a estrela de seis pontas, que simboliza a união entre o céu e a terra e que guarda em si um sétimo ponto oculto, que representa a ascensão espiritual... falta a serpente amarela, que claro, vou adaptar, afinal o símbolo comunica arquetipicamente... e a adaptação é a transmutação pelos preceitos alquímicos da Tábua de Esmeralda...

"O que está embaixo é como o que está no alto,
e o que está no alto é como o que está embaixo.
E por essas coisas fazem-se os milagres de uma coisa só.
E como todas essas coisas são e provêm de um, pela mediação do um, assim todas as coisas são nascidas desta única coisa por adaptação."
(Hermes Trismegisto)

sábado, 8 de novembro de 2014

... os dias


De que são feitos os dias?
- De pequenos desejos,
vagarosas saudades,
silenciosas lembranças.

Entre mágoas sombrias,
momentâneos lampejos:
vagas felicidades,
inactuais esperanças.
De loucuras, de crimes,
de pecados, de glórias
- do medo que encadeia
todas essas mudanças.
Dentro deles vivemos,
dentro deles choramos,
em duros desenlaces
e em sinistras alianças...
(Cecília Meireles)