terça-feira, 11 de setembro de 2012

Clarice no país da melancolia...



Nessas minhas andanças pelos jardins virtuais descobri um trabalho muito interessante sobre Clarice Lispector e a sua melancolia. Sempre me identifiquei muito com ela, principalmente pelo apetite voraz pela escrita como forma de materializar um grande monstro que habita o nosso avesso. Esses fragmentos de Clarice me soaram como cacos de cristal quebrado em mil pedaços de desejos e melancolias... Pena que não tenho o talento dela em expor esses sentimentos. Por isso empresto suas palavras...

Tenho grande necessidade de viver de muita pobreza de espírito e de não ter luxo de alma. (..) Escolhi hoje para vestir umas calças muito velhas e uma camisa rasgada. Sinto-me bem em molambos, tenho nostalgia de pobreza. (...) Tenho preguiça moral de viver. 

Hoje matei um mosquito. Com a mais bruta das delicadezas. Por quê? Por que matar o que vive? Sinto-me uma assassina e uma culpada. E nunca mais vou esquecer esse mosquito. Cujo destino eu tracei. A grande matadora. 

Este livro é a sombra de mim.  Para escrever tenho que me colocar no vazio. Neste vazio é  que existo intuitivamente. Mas é um vazio terrivelmente perigoso: dele arranco sangue. (...) Meditação leve e terna sobre o nada. Este é um livro silencioso. E fala, fala baixo. Este é um livro fresco – recém saído do nada.  Tudo o que aqui escrevo é forjado no meu silencio e na penumbra. (...) Minha nascente é obscura. Estou escrevendo porque não sei o que fazer de mim. 

 (...) O que está escrito aqui, meu ou de Ângela, são restos de uma demolição de alma, são cortes laterais de uma realidade que me foge continuamente. Esses fragmentos de livro querem dizer que eu trabalho em ruínas. Ângela é uma gema, porém com um pequeno pingo negro no amarelo-sol.  Tudo nela se  organiza em torno de um enigma intangível em seu núcleo mais íntimo.

Fragmentos extraídos de:

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