Nessas
minhas andanças pelos jardins virtuais descobri um trabalho muito interessante
sobre Clarice Lispector e a sua melancolia. Sempre me identifiquei muito com
ela, principalmente pelo apetite voraz pela escrita como forma de materializar
um grande monstro que habita o nosso avesso. Esses fragmentos de Clarice me
soaram como cacos de cristal quebrado em mil pedaços de desejos e
melancolias... Pena que não tenho o talento dela em expor esses sentimentos.
Por isso empresto suas palavras...
Tenho
grande necessidade de viver de muita pobreza de espírito e de não ter luxo de
alma. (..) Escolhi hoje para vestir umas calças muito velhas e uma camisa
rasgada. Sinto-me bem em molambos, tenho nostalgia de pobreza. (...) Tenho
preguiça moral de viver.
Hoje
matei um mosquito. Com a mais bruta das delicadezas. Por quê? Por que matar o
que vive? Sinto-me uma assassina e uma culpada. E nunca mais vou esquecer esse
mosquito. Cujo destino eu tracei. A grande matadora.
Este
livro é a sombra de mim. Para escrever
tenho que me colocar no vazio. Neste vazio é
que existo intuitivamente. Mas é um vazio terrivelmente perigoso: dele
arranco sangue. (...) Meditação leve e terna sobre o nada. Este é um livro
silencioso. E fala, fala baixo. Este é um livro fresco – recém saído do
nada. Tudo o que aqui escrevo é forjado
no meu silencio e na penumbra. (...) Minha nascente é obscura. Estou escrevendo
porque não sei o que fazer de mim.
(...) O que está escrito aqui, meu ou de
Ângela, são restos de uma demolição de alma, são cortes laterais de uma
realidade que me foge continuamente. Esses fragmentos de livro querem dizer que
eu trabalho em ruínas. Ângela é uma gema, porém com um pequeno pingo negro no
amarelo-sol. Tudo nela se organiza em torno de um enigma intangível em
seu núcleo mais íntimo.
Fragmentos
extraídos de:
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