Falhei. Os astros seguem seu caminho.
Minha alma, outrora um universo meu,
É hoje, sei, um lúgubre escaninho
De consciência sob a morte e o céu.
Falhei. Quem sou vivi só de supô-lo.
O que tive por meu ou por haver
Fica sempre entre um polo e o outro polo
Do que me nunca há-de pertencer.
Falhei. Enfim! Consegui ser quem sou,
O que é já nada, com a lenha velha
Onde, pois valho só quanto me dou,
Pegarei facilmente uma centelha.
(1-2-1933)
Poesias Inéditas (1930-1935). Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1955 (imp. 1990).p. 121.
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