quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Magos: astrólogos, bruxos e alquimistas...

Embora o cristianismo renegue certa classe de homens sábios e os tenha perseguido durante séculos, a eles dedica um dos dias mais importantes de seu calendário: o "dia dos reis magos". Na tradição ocidental é o dia 06 de janeiro, quando se costuma desfazer a decoração de Natal. Em alguns lugares do Brasil, como no Espírito Santo, na Bahia e em Minas Gerais, comemora-se a "folia de reis", festa enraizada na colonização portuguesa. Os reis magos Baltazar, Gaspar e Belchior (ou Melchior) são mencionados no Evangelho de Matheus, ainda que não conste seus nomes, nem que eram três e nem tão pouco que eram reis... Está escrito apenas "magos" ou "magoi" em grego.


"E, tendo nascido Jesus, em Belém na Judéia, no tempo do rei Herodes, eis que uns magos vieram do Oriente à Jerusalém. (Mateus, cap. 2, v.1).”


... depois diz que seguiram a estrela e quando chegaram até Jesus presentearam-no com incenso, ouro e mirra, daí a tradição de se trocar presentes no Natal. É oportuno esclarecer que, segundo alguns historiadores, o dia do nascimento de Jesus foi dia 17 de abril do ano 6 a.C., considerando-se as correções do calendário gregoriano, e não dia 25 de dezembro. Tal data, na verdade, foi uma manobra da Igreja para aproximar o evento às comemorações do dia de Hélio, deus sol. À parte essa discussão, que não nos interessa no momento, voltemos aos magos, quem foram esses misteriosos personagens?

Bom, primeiro: seus nomes não foram inventados, foram tirados de algum lugar, isto é, são referências apócrifas que a Igreja não conseguiu apagar da memória e da tradição popular. Segundo, para se saber o lugar e o dia do nascimento do Messias, tais homens tinham que conhecer o mapa do céu, eis porque seguir a singular estrela, que no caso, tratava-se de uma conjunção de Marte/Saturno/Júpiter, dando a impressão para quem olha da Terra, de ser uma grande estrela, o que prova que eram astrólogos. Terceiro: eram também alquimistas porque entre seus presentes havia ouro, metal não tão fácil de se conseguir àquela época.

E por que se convencionou referir-se a eles como "três reis magos"?

Uma das críticas mais severas feitas aos textos herméticos foi de que eles não eram tão antigos quanto se imaginava, haviam sido escritos entre os séculos II e IV d.C. e eram na verdade, fruto de um substrato pagão do cristianismo gnóstico que quis corroborar o nascimento de Jesus como o Messias, uma vez que em tais textos consta que “o verbo se tornaria carne”. Pois bem, acredito que tais magos pertenciam à Escola de Hermes, o Hermes Trismegisto (três vezes mago) como já mencionei anteriormente. Por isso três magos: um velho, um jovem e um adulto. Acredita-se que suas relíquias ósseas estão guardadas na Catedral de Colônia na Alemanha. Somente tais sábios poderiam reconhecer a grandeza de outro mago a nascer: Jesus. Sim, pois dentro do que se compreende por “magia” (poder de curar, mover montanhas, águas, mudar o curso das estrelas, proliferar coisas, enfim...), podemos afirmar que um dos maiores magos de todos os tempos foi Jesus. E sua ida ao Egito, sede das grandes escolas de magia, não foi à toa.

Até aqui, falamos dos misteriosos reis magos. Mas o que podemos compreender por "magia”, uma vez que essa expressão pode ser confundida com feitiçaria ou bruxaria, no seu pior sentido. Esse foi um dos assuntos que examinei profunda e exaustivamente em minha pesquisa, a qual transcrevo parcialmente aqui.


A ciência sagrada como entendida pelos antigos sábios era composta por quatro artes: a Magia, a Astrologia, a Cabala e a Alquimia, isto é, artes associadas ao movimento, à luz, ao verbo e ao calor.

A palavra “mago”, no evento bíblico citado, deriva do persa Mobed, Megh e ainda Meh-ab, que queria dizer homem de grande de força, e Magusk, homem sábio. Os discípulos de Zoroastro, por exemplo, eram chamados de Megh-estom. E tanto Moisés, como Daniel foram magos que praticaram a magia caldaica e egípcia. Nesse caso, a palavra mago em caldeu deriva de magh ou mah-hindu, que significa um homem versado em ciência secreta e esotérica. É tão impossível precisar a origem da palavra magia, quanto indicar o dia em que nasceu o primeiro homem, pois a magia é tão antiga quanto o homem, como afirma Helena Blavatsky. No entanto, alguns autores modernos esforçam-se para provar que Zoroastro foi o fundador da magia, unicamente porque foi o fundador da religião dos magos. Mas a prática da magia pode ser observada em outras culturas, as quais nunca tiveram contato entre si. Cada uma das religiões, onde a magia é praticada de alguma forma, baseia-se nos estudos dos conhecimentos ocultos da natureza e maneiras de manipulá-la, juntando-se à ela o conhecimento da alquimia e da astrologia.

A palavra magnetismo, por sua vez vem de Magnésia, cidade antiga da Tessália, onde se encontravam muitas pedras imantadas. E não foi difícil estabelecer-se uma associação entre a idéia de magia e magnetismo, visto que ambas pressupõem um poder simpático e de atração. Já o parônimo de mago, “mágico” assumiu um significado muito diferente do que teve no passado. Hoje é associado ao embusteiro e charlatão. Mas em sua origem era sinônimo de honrado e respeitável, possuidor do conhecimento e da sabedoria.

O historiador Pierre Riffard afirma que para a magia ser operada considera-se que há três tipos de mundo: o elemental, o celeste e o intelectual. Portanto, há a magia natural, a magia celeste e a magia cerimonial. A magia nesse sentido, é uma faculdade que tem um imenso poder pleno de mistérios bastante exaltados, e que reafirma um conhecimento muito profundo das coisas mais concretas, sua natureza, seu poder, sua qualidade, sua substância, seus efeitos, sua diferença e seus produtos. A partir daí, ela produz seus efeitos maravilhosos pela união e aplicação feitas das diferentes virtudes dos seres superiores com as inferiores. Trata-se da verdadeira ciência, a filosofia mais elevada e mais misteriosa, a perfeição e a realização de todas as ciência naturais, pois toda a filosofia estabelecida se divide em física, matemática e teológica.

Outra relação importante a ser mencionada com a magia é a “imaginação”, isto é, o poder de criar mentalmente, movido por uma vontade. Imaginatio é parente de magnet, magia, imagio e também imagem. É o principal instrumento do conhecimento (de si, do mundo e da natureza). A respeito da relação entre imaginação e criação, afirma Alice Bailey que “para que um indivíduo possa tornar sua criação real, seja ela uma pintura, escultura ou um invento qualquer, deve ele antes imaginar, criar mentalmente, planejar. Do pensamento-forma passa-se a execução do que foi imaginado efetivamente.” Ainda sobre a magia, segundo O Caibalion, o poder é mental. É a força da mente e da imaginação que pode criar e movimentar. Portanto, podemos entender por magia o poder de concentrar a vontade na imaginação criadora, possível por meio do conhecimento das leis da natureza. É a vontade que põe a força em movimento e produz matéria.


A mente (tão bem como os metais e os elementos) pode ser transmutada de estado em estado, de grau em grau, de condição em condição, de pólo em pólo, de vibração em vibração. A verdadeira Magia é uma Arte Mental.


É importante ressaltar que desde a Renascença, não somente a Igreja como também os sábios, condenaram a “baixa magia”, consideravam os sortilégios como prática ilícita de bruxaria. Não somente a magia, mas também a astrologia, que tentava prognosticar o futuro, eram tidas como supersticiosas e eram severamente condenadas e punidas. Os vaticínios eram coisas de adivinhos e feiticeiros. No entanto, grandes navegadores como Vasco da Gama, tiveram conhecimento de astrologia para empreender suas viagens, sem serem perseguidos pela Igreja. A questão é que, esta astrologia de Gama, era uma astrologia científica diferente da astrologia judiciária (supersticiosa) como observou Miguel Faria.

Para frisar a diferença entre a baixa e a alta magia, é interessante demonstrar que durante a Renascença, o abade Tritheinm (1462 – 1516) deu um depoimento significativo sobre a prática da alta magia: “A magia, falo da magia natural, não produz somente efeitos visíveis, mas, além disso, ilumina maravilhosamente, no conhecimento da divindade, o espírito do homem instruído nessa arte, concedendo à alma frutos invisíveis”. Segundo Riffard, o abade que tentou restringir seu conceito de magia, passando a magia natural, e de magia natural, a magia lícita, acabou na verdade, ampliando sua idéia até entender por magia o conhecimento doutrinal e operativo dos segredos da natureza, da arte, do espírito e de Deus, diferindo a alta magia da magia especulativa e prognostica.


Obras consultadas:

- BLAVATSKY, Helena P. A doutrina mística. Narrações Ocultistas. São Paulo: Editora Hemus. s/d., p. 193.

- RIFFARD, P. A. O Esoterismo. São Paulo: Editora Mandarim, 1996. p. 90.

- BAYLEY, Alice A. Um tratado sobre magia branca: o caminho do discípulo. Editado por Lucis Publishing Company/New York. Porto Alegre: Gráfica e Editora A Nação, 1951.

- TRÊS INICIADOS. O Caibalion.

- FARIA, Miguel. Vaticínios e superstições: 1524 – 1577. In.: Revista Oceanos, Memória da África. no. 73, Março 1993. p. 50 – 57.

- YATES, F. Giordano Bruno e a tradição hermética. São Paulo: Editora Cultrix, 1964. p. 445 e 449.


Agora vem a grande questão: ainda existem magos?

Hum... Talvez não com o poder elevado a uma superpotência divina como no caso de Daniel, Enoch, Moisés e Jesus. Mas em pequenas escalas sim. Afinal, todo aquele que tem força de pensamento (POSITIVO, sempre positivo!) tem poder de criar, de mudar, de fazer acontecer... E a física quântica moderna, pela lei da vibração, tem provado cada vez mais que isso é possível. Então se todos fizermos uma corrente de pensamento positivo para que o mundo mude, talvez ele melhore :)

Emanando energias positivas à todos: Ohm mani padmé hum...

Feliz 2010!



3 comentários:

  1. Elementis non Brazilian.10 de abril de 2014 às 10:50

    Notus angeli sermonibus tuis, et talis est transcredindo magoi elementa mundi caput, grati tua est.

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  2. A imensa bondade, o ser desconhecido vive na luz a procura de sabedoria... Ohh!!! Ela nao existe, ele é e pra sempre serà

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  3. Ao ler e meditar um pouco sobre esta reflexao,vejo o quão longe estou do verdadeiro saber.
    Grato,por tornarem mais claras minha visão,pois já imaginava ser desta forma o conceito iniciatico do aprendiz,mas varias eram as dúvidas quanto ao passo de entender sobre imaginação,criação e os conhecimentos necessários para sua execução.

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