Palácio da energia
elétrica e torre de água: um monumento à era da ciência. Paris, 1900.
Otimismo
e Pessimismo Sobre o Século XX e Muitas Outras Coisas
Dum spiro spero! [Enquanto há vida,
há esperança!] ... Se eu fosse um dos corpos celestiais, eu olharia com
completo desapego para esta bola miserável de sujeira e poeira ... Eu brilharia
indiferente entre o bem e o mal ... Mas eu sou um homem. A história do mundo
que para você, desapaixonado cálice de ciência, para você, guarda-livros da
eternidade, parece apenas um momento insignificante no equilíbrio temporal,
para mim é tudo! Enquanto eu respirar, eu lutarei pelo futuro, este radiante
futuro no qual o homem, poderoso e belo, se tornará mestre do fluxo incerto da
História e irá direcioná-lo para um horizonte sem fim de beleza, alegria e felicidade!
O século dezenove de muitas formas satisfez e de ainda mais formas
enganou as esperanças do otimista ... Ele o compeliu a transferir a maioria das
suas esperanças para o século vinte. Sempre que o otimista se confrontava com
um fato de atrocidade, ele exclamava: Como pode isso acontecer no limiar do
século vinte! Quando ele imaginasse maravilhosamente desenhado um futuro
harmonioso, ele o colocava no século vinte.
E agora este século chegou! O que trouxe com ele em sua
inauguração?
Na França – o escarcéu venenoso do ódio racial; na
Áustria – disputa nacionalista...; na África do Sul – a agonia de um povo
pequeno, que está sendo assassinado por um colosso; na
própria “ilha da liberdade” – o canto triunfante da vitoriosa avareza de
agiotas chauvinistas; dramáticas “complicações” no leste; rebeliões de massas
populares famintas na Itália, Bulgária, Romênia ... ódio e morte, fome e sangue
...
Parece até que o novo século, este gigante recém-chegado, está
determinado mesmo no momento do seu surgimento a levar o otimista ao absoluto
pessimismo e a um nirvana cívico.
– Morte à Utopia! Morte à fé! Morte ao amor! Morte à esperança!
Esbraveja o século vinte em salvas de fogo e ao retumbar das armas.
– Renda-se seu patético sonhador. Aqui estou eu, o seu tão
esperado século vinte, o seu “futuro”.
– Não, responde o
inabalado otimista: Você, você é apenas o presente.
Trecho
de um texto escrito em 1901, pelo jovem Leon
Trotsky, reimpresso como introdução à primeira edição da revista Revolutionary Regroupment. Ele simboliza a determinação da
revista em ser bem sucedida no seu esforço e na sua confiança fundamental na
capacidade da classe trabalhadora de quebrar as correntes de opressão e
inaugurar um novo capítulo na história da humanidade.
Tradução
de Rodolfo Kaleb e Leandro Torres em 2011. Disponível em:
Acesso em: 04 Dez
2015.
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