segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

não há mais poesia...

Há algum tempo alguém me disse que achava essa cena do filme do Wenders muito linda.
Encarnei esse arquétipo e há uma semana vivo todos os dias essa cena...
Que beleza pode haver na morte senão o da poesia?...
A cena só é bela porque é poética...
e se a poesia, que ajuda a alma a suportar o sofrimento existencial, morre...
resta apenas a dor...
Sem a poesia (o anjo do alento) há apenas o vazio...
nao há mais poesia.

domingo, 27 de janeiro de 2013

A solidão dos morimbundos...

 Publicado no ano de 1982, o texto “A Solidão dos Moribundos!” de Norbert Elias retrata o comportamento dos homens diante do fim eminente, os quais ao nascer já foram sentenciados: a morte. As sociedades mais desenvolvidas, em nome de uma higienização biológica, afastam o indivíduo da família – e não o fazem sem razão – e enceram o moribundo em hospitais, de modo que a partir deste momento é o Estado e todos seus empregados que tomarão os cuidados necessários para com o doente que logo tornar-se-á um cadáver. Portanto, a morte deixa de ser pública e é encerrada dentro de Instituições.
Elias ressalta que diante das diversas maneiras de lidar com o fim da vida, a crença de que “os outros morrem, menos eu” seria uma forma de retração diante da finitude; retração ainda maior no século XX. Mesmo a morte sendo um fato diante da existência, o homem não deixa de indagar o sentido da mesma: o que pensa um homem que tem conhecimento do seu fim eminente? O que fazem as pessoas queridas deste moribundo nestes instantes finais? O amor e o aconchego das pessoas que lhe são caras amenizariam o peso da proximidade do fim? Tais questões colocam os vivos diante da fragilidade dos moribundos: “A fragilidade dessas pessoas é muitas vezes suficiente para separar os que envelhecem dos vivos. Sua decadência as isola”. (ELIAS, p. 8). Esta passagem é sugestiva, pois impulsiona o leitor a distinguir os “vivos” dos “moribundos”, de modo que o moribundo não é participante da comunidade dos vivos: a precariedade biológica os condena antecipadamente a uma não-comunidade, ou seja, o moribundo não pertence nem ao mundo dos vivos, nem ao mundo dos mortos, ele está só. Os vivos falam da morte, os moribundos, diante dela, atônitos se calam. Para os vivos a morte é sempre um problema do outro, entretanto, Elias, estreitando as rédeas, traz à tona o problema da morte e, mui claramente, salienta a quem o mesmo se destina: “A morte é um problema dos vivos. Os mortos não têm problemas. Entre as muitas criaturas que morrem na terra, a morte se constitui um problema só para os seres humanos. Embora compartilhem o nascimento, a doença, a juventude, a maturidade, a velhice e a morte com os animais, apenas eles, dentre todos os vivos, sabem que morrerão [...]”. (ELIAS, p. 10). A nobreza do pensamento esclarece a certeza da dissolução biológica: tal estado coloca o moribundo diante do abandono. O moribundo seguirá sozinho, desta maneira, ele já está sozinho. O que fica para trás é um problema para os vivos. Uma macaca carrega por vários dias o seu filhote que nasceu morto (Cf. ELIAS, p. 11), mas, com o passar do tempo, esquece onde deixou o cadáver e segue a sua vida: “Nada sabe da morte, da de sua cria e da sua própria. Os seres humanos morrem, e assim a morte se torna um problema para eles”. (ELIAS, p. 11). No texto Elias deixa claro que o problema da morte é fundamental para a vida humana, pois, sabendo que morre, o homem precisa agir. Logo, como preservar a vida?
A vida do homem em sociedade serviu de preparação para a crença em vidas após a morte, desde que tal crença oferecesse um mínimo de alívio que possibilitasse um grau de agonia menor do que o esperado para uma criatura que, em um determinado momento, toma conhecimento da morte. Todavia, em sociedades mais desenvolvidas, a crença em sistemas de sentido sobrenaturais tornaram-se menos apaixonadas (Cf. ELIAS, p. 13), “[...] em certa medida, transferiu sua base para sistemas seculares de crenças.” (ELIAS, p. 13). Os desenvolvimentos da técnica médica aumentou o tempo de vida, pois, no século XII “[...] um homem de quarenta anos era quase visto como um velho [...]”.(ELIAS, p. 14). Na sociedade moderna ele é visto como “quase jovem” (ELIAS, p. 14). Desta maneira, a morte distancia-se não só na vida do indivíduo que vive mais, mas ela é banida do espaço público. Se antes a morte caminhava entre os homens, de modo que os moribundos padeciam na companhia de seus familiares e súditos até o último pulsar de seu coração, agora será nos hospitais que o moribundo, sozinho – pois está afastado daqueles que lhe são caros –, enfrentará seu fim derradeiro. “O espetáculo da morte não é mais corriqueiro. Ficou mais fácil esquecer a morte no curso normal da vida”. (ELIAS, p. 15). Portanto, a morte é empurrada para os bastidores da vida social e, o que não poderia ser diferente, o moribundo também. A morte não deve ser falada, nem pensada, ora, tal posição faz pesar as bases da educação ou formação do indivíduo: o que os pais falam para seus filhos quando estes se deparam com a morte? Nada. Neles habitam o medo de transmitir suas angústias aos filhos e abortam qualquer possibilidade de fazer os filhos pensar sobre o fim de tudo que os cerca (Cf. ELIAS, p. 26), mesmo porque o repertório lingüístico para lidar com o fim é exíguo. (Cf. ELIAS, p. 31).
O texto “A Solidão dos Moribundos!” de Norbert Elias levanta problemas da sociedade contemporânea, contrastando esta com sociedades que se organizaram de outra forma em diferentes contextos. O resultado desta análise é uma avaliação clara da relação que o homem – das sociedades tecnicistas e instrumentalmente sofisticadas – trava com o moribundo e a idéia da morte: isolamento para dissolução. Portanto, neste contexto a morte é encarada como sentença que deve ser escondida dos vivos e higienizada pelas funerárias. O medo da morte é tão aterrorizante que o moribundo é afastado da vida dos vivos e os vivos incorporados numa comunidade eterna. A inclusão destes vivos nesta comunidade eterna é elaborada pelas religiões que tentam, incessantemente, suprir a demanda de vida eterna dos vivos e, consequentemente, construir uma espécie de “administração dos medos”. Assim a vida torna-se mais suportável e a morte menos cruel.
ELIAS, Norbert “A Solidão dos Moribundos”. Trad. Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001.
Texto de ANDREI VENTURINI MARTINS
do Blog: http://www.institutohypnos.org.br/?p=958

sábado, 26 de janeiro de 2013

céu...


Esta manhã, antes do alvorecer, subi numa colina para admirar o céu povoado e disse à  minha alma:
Quando abarcarmos esses mundos e o conhecimento e o prazer que encerram, estaremos finalmente fartos e satisfeitos?
E minha alma disse:
Não, uma vez alcançados esses mundos prosseguiremos no caminho.
(Walt Whitman)

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Hallelujah...


o que é: somente poesia...


Encarar a vida pela frente... Sempre... Encarar a vida pela frente, e vê-la como ela é... Por fim, entendê-la e amá-la pelo que ela é... E depois deixá-la seguir... Sempre os anos entre nós, sempre os anos... Sempre o amor... Sempre a razão... Sempre o tempo... Sempre... As horas.
(Virginia Woolf)

melancolia...

Melancolia! Estende-me a tu'asa!
És a árvore em que devo reclinar-me... 
Se algum dia o Prazer vier procurar-me. 
Dize a este monstro que eu fugi de casa!
(Augusto dos Anjos)

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

... perecível...

Que canto há de cantar o indefinível?
O toque sem tocar, o olhar sem ver
A alma, amor, entrelaçada dos indescritíveis.
Como te amar, sem nunca merecer?
Amar o perecível,
o nada,
o pó,
é sempre despedir-se.
(Hilda Hilst)

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

... de Julho em mim ainda te lembras?



Foi Julho sim. E nunca mais esqueço.
O ouro em mim, a palavra
Irisada na minha boca
A urgência de me dizer em amor
Tatuada de memória e confidência.
Setembro em enorme silêncio
Distancia meu rosto. Te pergunto:
De Julho em mim ainda te lembras?
Disseram-me os amigos que Saturno
Se refaz este ano. E é tigre
E é verdugo. E que os amantes
Pensativos, glaciais
Ficarão surdos ao canto comovido.
E em sendo assim, amor,
De que me adianta a mim, te dizer mais?
(Hilda Hilst)

sábado, 12 de janeiro de 2013

céu...


"QUEM ME DERA SE DEUS PERMITISSE
E A TAREFA NÃO SERIA POUCA
DESVENDAR TODOS OS MISTÉRIOS
ESCONDIDOS NAS ESTRELAS
DO CÉU DE SUA BOCA"
.
C. MOREIRA

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

sonhar-te...

Fanatismo

Minh'alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer razão de meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!

Não vejo nada assim enlouquecida...
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!

Tudo no mundo é frágil, tudo passa...
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!

E, olhos postos em ti, vivo de rastros:
"Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: princípio e fim!..."

(Livro de Soror Saudade, 1923)
Florbela Espanca

morrer de amor...


Tão bom morrer de amor e continuar vivendo...
(Mário Quintana)

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

quem ama inventa...


Quem ama inventa as coisas a que ama... 
Talvez chegaste quando eu te sonhava.
Então de súbito acendeu-se a chama! 
Era a brasa dormida que acordava.
(Quintana)

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

domingo, 6 de janeiro de 2013

estrela-guia...

no dia dos reis magos...

2013...

2013: o ano da serpente no calendário chinês

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Hilda e Dionísio...

Três luas, Dionísio, não te vejo.
Três luas percorro a Casa, a minha,
E entre o pátio e a figueira
Converso e passeio com meus cães

E fingindo altivez digo à minha estrela
Essa que é inteira prata, dez mil sóis
Sirius pressaga

Que Ariana pode estar sozinha
Sem Dionísio, sem riqueza ou fama
Porque há dentro dela um sol maior:

Amor que se alimenta de uma chama
Movediça e lunada, mais luzente e alta

Quando tu, Dionísio, não estás.
(Hilda Hilst)

no caminho que ninguém caminha...


adormecer...

O casulo

Esquecer.
Tão lentamente
que não vai nem doer.
Como dormir e acordar
já lá - em meu destino,
e, no fim do caminho,
encontrar apenas
eu mesma.
(Thaís Marino)