segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

falas às paredes...

Quem és tu que me lês? És o meu segredo ou sou eu o teu? 

(Clarice Lispector)

domingo, 26 de janeiro de 2014

Brasília...

leva tempo até a improvável adaptação... 
uma cidade que pede prova do seu amor todo o tempo 
e te devolve solidão... 
(Rachel)

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

simples mente...

E às vezes numa queda, como se tudo se purificasse, ela se contentava em fazer uma superfície lisa, serena, unida, numa simplicidade fina e tranquila.

(Clarice Lispector - texto publicado na revista ”nordeste”)

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

tempo rei, transformai as velhas formas do viver...

Não me iludo
Tudo permanecerá
Do jeito que tem sido
Transcorrendo
Transformando
Tempo e espaço navegando
Todos os sentidos...
(Gil)

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

But some of us don't know why...

We could live
For a thousand years
But if I hurt you
I'd make wine from your tears

I told you
That we could fly
'Cause we all have wings
But some of us don't know why...

domingo, 19 de janeiro de 2014

há penas a espera...



poesia: alquimia da palavra...


Los verdaderos alquimistas no cambiaban la tierra en oro, sino que cambiaban el mundo em palabras.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

... nem anjos, nem homens, nem demônios...

Primeira Elegia
(Rilke)

Se eu gritasse, quem me ouviria de entre
as hierarquias dos anjos?
E mesmo que um deles me apertasse
em seu coração, eu sucumbiria
Ante sua existência avassaladora.
Pois o belo não é nada
Senão o início do terror, que já a custo suportamos,
E o admiramos tanto porque ele serenamente desdenha
Aniquilar-nos. Todo anjo é terrível.
E assim me contenho pois, e reprimo o apelo.

Do obscuro soluço. Ah! A quem podemos
Recorrer então? Nem aos anjos nem aos homens,
[nem aos demônios]
E os animais sagazes logo percebem
Que não estamos muito seguros
No mundo interpretado. Resta-nos talvez
Alguma árvore na encosta que diariamente
Possamos rever. Resta-nos a rua de ontem
E a mimada fidelidade de um hábito,
Que se compraz conosco e assim fica e não nos abandona.
Ó e a noite, a noite, quando o vento cheio dos espaços
Do mundo desgasta-nos o rosto -, para quem ela não é sempre a desejada,
Levemente decepcionante, que para o solitário coração
Se impõe penosamente. Ela é mais leve para os amantes?
Ah! Eles escondem apenas um com o outro a própria sorte.
Não o sabes ainda? Atira dos braços o vazio
Para os espaços que respiramos; talvez que os pássaros
Sintam o ar mais vasto num voo mais íntimo.

Sim, as primaveras precisavam de ti. Muitas estrelas
Esperavam que tu as percebesses. Do passado
Erguia-se uma vaga aproximando-se, ou
Ao passares sob uma janela aberta,
Um violino se entregava. Tudo isso era missão.
Mas a levaste ao fim? Não estavas sempre
Distraído pela espera, como se tudo te ansiasse
A bem amada? (onde queres abrigá-la
Então, se os grandes e estranhos pensamentos entram
E saem em ti e muitas vezes ficam pela noite.)
Se a nostalgia te dominar, porém, cantas as amantes; muito
Ainda falta para ser bastante imortal seu celebrado sentimento.
Aquelas que tu quase invejaste, as desprezadas, que tu
Achaste muito mais amorosas que as apaziguadas. Começa
Sempre de novo o louvor jamais acessível;
Pensa: o herói se conserva, mesmo a queda lhe foi
Apenas um pretexto para ser: o seu derradeiro nascimento.
As amantes, porém, a natureza exausta as toma
Novamente em si, como se não houvesse duas vezes forças para realizá-las.
Já pensaste pois em Gaspara Stampa
O bastante para que alguma jovem,
A quem o amante abandonou, diante do elevado exemplo
Dessa apaixonada, sinta o desejo de tornar-se como ela?
Essas velhíssimas dores afinal não se devem tornar
Mais fecundas para nós? Não é tempo de nos libertarmos,
Amando, do objeto amado e a ele tremendo resistirmos
Como a flecha suporta à corda, para, concentrando-se no salto
Ser mais do que ela mesma?
Pois parada não há em parte alguma.

Vozes, vozes. Escuta, coração como outrora somente
os santos escutavam: até que o gigantesco apelo
levantava-os do chão; mas eles continuavam ajoelhados,
inabaláveis, sem desviarem a atenção:
eles assim escutavam. Não que tu pudesses suportar
a voz de Deus, de modo algum. Mas escuta o sopro,
a incessante mensagem que nasce do silêncio.
Daqueles jovens mortos sobe agora um murmúrio em direção a ti.
Onde quer que penetraste, nas igrejas
De Roma ou de Nápoles, seu destino não falou a ti, tranquilamente?
Ou uma augusta inscrição não se impôs a ti
Como recentemente a lousa em Santa Maria Formosa.
Que eles querem de mim? Lentamente devo dissipar
A aparência de injustiça que às vezes dificulta um pouco
O puro movimento de seus espíritos.

Certo, é estranho não habitar mais terra,
Não mais praticar hábitos ainda mal adquiridos,
Às rosas e outras coisas especialmente cheias de promessas
Não dar sentido ao futuro humano;
O que se era, entre mãos infinitamente cheias de medo
Não é mais, e até o próprio nome
Deixar de lado como um brinquedo quebrado.
Estranho, não desejar mais os desejos. Estranho,
Ver tudo o que se encadeava esvoaçar solto
No espaço. E estar morto é penoso
E cheio de recuperações, até que lentamente se divise
Um pouco da eternidade. - Mas os vivos
Cometem todos o erro de muito profundamente distinguir.
Os anjos (dizem) não saberiam muitas vezes
Se caminham entre vivos ou mortos. A correnteza eterna
Arrebata através de ambos os reinos todas as idades
Sempre consigo e seu rumor as sobrepuja em ambos.

Finalmente não precisam mais de nós os que partiram cedo,
Perde-se docemente o hábito do que é terrestre, como o seio materno
suavemente se deixa, ao crescer. Mas nós que de tão grandes
mistérios precisamos, para quem do luto tantas vezes
o abençoado progresso se origina - : poderíamos passar sem eles?
É vã a lenda de que outrora, lamentando Linos,
A primeira música ousando atravessou o árido letargo,
Que então no sobressaltado espaço, do qual um quase divino adolescente
escapou de súbito e para sempre, o vazio entrou
naquela vibração que agora nos arrebata e consola e ajuda...

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Inanna...

Dizem alguns que o dia 2 de janeiro é o dia de Inanna, a representação sumeriana da polêmica Lilith hebraica, deusa do vinho, da colheita e do amor oculto. Não sei se é verdade, pois os sumérios tinham outro calendário e eu estou com preguiça de pesquisar. 
De qualquer forma, ontem aconteceu a primeira lua do ano: lua nova, chamada de lua negra, lua de Lilith. 
Por coincidência, talvez, já que eu desisti de entender o que é coincidência, ganhei um lindo presente do padre da instituição onde eu trabalho: uma vassoura artesanal produzida pela família dele, que mora no interior de São Paulo. Quando me deu, disse-me "Eu sei que isso tem significado para você."  Fiquei tão surpresa... acho que nunca na história uma bruxa ganhou uma vassoura de um padre em um dia tão simbólico... 
Quase voltei voando para casa... 

Fragmento do poema de Enheduanna dedicado à Inanna
Rainha de todos os poderes conferidos
Revelada qual clara luz
Mulher invencível vestida de brilho
Céu e terra são seus abrigos
És a eleita e sacrificada, óh tu
Grandiosa por suas galas
És coroada com tua amada bondade
Suma sacerdotisa, és justa
Suas mãos têm sete poderes fixos
Minha rainha, de forças fundamentais
Guardiã das origens cósmicas e essenciais
Tu exaltas os elementos
Ata-os a tuas mãos
Reúne em ti os poderes
Aprisionando-os em teu peito
(...)
És o rio que transborda montanha abaixo
És Inanna
Suprema no céu e na terra.

GALICIA, Aline Lara; HINOJO, Adriana (Trad.) Los escritos de Enheduanna: Los poemas más antiguos que se han descubierto. p. 32-33. Actualidades Arqueológicas, revista de estudiantes de arqueología en México. Año 5, n. 25. Enero – Marzo 2001S.