segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Adeus ao cisne...

Conhecer uma das pessoas afetadas pela tragédia no Haiti torna a dimensão do que aconteceu ainda mais real e pungente. Uma das almas iluminadas que trabalhava pela paz na região era um companheiro da pós-graduação, parceiro de trabalhos acadêmicos, um ser que conquistou minha admiração por sua inteligência, sobriedade e equilíbrio. Sua pesquisa era sobre o islamismo africano no Brasil e o porquê do seu desaparecimento, mesmo na forma sincrética. Um trabalho interessantíssimo e agora inacabado...
Compartilho aqui o email que trocamos antes de sua partida para o Haiti e que me é significativo sobre a grandeza de sua humanidade:

From: Ariete Nasulicz e Beltrami Date: 2009/5/18
To: mvmcysne
Subject: ...
Sobre a sua viagem pro Haiti... gostaria de dizer que os anjos iluminem o seu caminho... que iluminem as suas ações com aquele povo que tanto necessita de ajuda e que te tragam novamente são e salvo para a sua familia, sua esposa e suas filhas... Saiba que tem toda a minha admiração por este ato... que esta experiência te traga um aprendizado mais elevado... E por mais q as coisas se apresentem dificeis em algum momento nunca deixe de acreditar na justiça divina... quando estiver indo dê um toque: orações e bons pensamentos emanados por outros sempre ajudam...
"Do começo ao fim
asas me levam sempre assim do fim ao começo, traço o tropeço, asas me trazem sempre enfim."
Namastê, marcus
e que os anjos de Deus te protejam...

de: mvmcysne
para: Ariete Nasulicz e Beltrami

data 20 de maio de 2009 10:52

assunto Re: ...

Olá, Ariete. Estou muito feliz com essa oportunidade de poder ajudar um pouquinho aquelas pessoas, além de poder viajar e conhecer outras culturas... Estive lá por uma semana em março e as condições de vida da grande maioria são mesmo muito ruins. Porém, devagar, as coisas vão melhorando e hoje já se vislumbra um futuro melhor em todas as áreas. É grande o esforço internacional pelo Haiti e fantastico o trabalho feito pelos brasileiros (todos, militares, diplomatas, ONG, governo, etc) por lá. Alguns velhos paradigmas das missões de paz da NU vêm sendo quebrados em razão disso, apesar de serem poucas as notícias que chegam por aqui. Esta é a 5a missão da ONU no Haiti desde os anos 80, mas todas as outras seguiram o viés americano e deram em nada. Todos agora querem saber qual o segredo do sucesso... Fico por aqui. Agradeço pelas suas palavras. Mantenho contato. Marcus.


Sou consciente de que não existem palavras que confortem a dor da família, da esposa, uma taurina forte e determinada a quem ele se referia com muito carinho; da mãe, também historiadora, sua grande referência; da filha mais velha, seu orgulho; da mais nova, que em tão pouco tempo de existência já fizera tantas viagens, as quais ele relatava como "aventuras"; e da orientadora, sua mentora intelectual... são elas mulheres de Atenas... com quem me solidarizo...

Fica aqui a minha singela homenagem ao companheiro...

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Magos: astrólogos, bruxos e alquimistas...

Embora o cristianismo renegue certa classe de homens sábios e os tenha perseguido durante séculos, a eles dedica um dos dias mais importantes de seu calendário: o "dia dos reis magos". Na tradição ocidental é o dia 06 de janeiro, quando se costuma desfazer a decoração de Natal. Em alguns lugares do Brasil, como no Espírito Santo, na Bahia e em Minas Gerais, comemora-se a "folia de reis", festa enraizada na colonização portuguesa. Os reis magos Baltazar, Gaspar e Belchior (ou Melchior) são mencionados no Evangelho de Matheus, ainda que não conste seus nomes, nem que eram três e nem tão pouco que eram reis... Está escrito apenas "magos" ou "magoi" em grego.


"E, tendo nascido Jesus, em Belém na Judéia, no tempo do rei Herodes, eis que uns magos vieram do Oriente à Jerusalém. (Mateus, cap. 2, v.1).”


... depois diz que seguiram a estrela e quando chegaram até Jesus presentearam-no com incenso, ouro e mirra, daí a tradição de se trocar presentes no Natal. É oportuno esclarecer que, segundo alguns historiadores, o dia do nascimento de Jesus foi dia 17 de abril do ano 6 a.C., considerando-se as correções do calendário gregoriano, e não dia 25 de dezembro. Tal data, na verdade, foi uma manobra da Igreja para aproximar o evento às comemorações do dia de Hélio, deus sol. À parte essa discussão, que não nos interessa no momento, voltemos aos magos, quem foram esses misteriosos personagens?

Bom, primeiro: seus nomes não foram inventados, foram tirados de algum lugar, isto é, são referências apócrifas que a Igreja não conseguiu apagar da memória e da tradição popular. Segundo, para se saber o lugar e o dia do nascimento do Messias, tais homens tinham que conhecer o mapa do céu, eis porque seguir a singular estrela, que no caso, tratava-se de uma conjunção de Marte/Saturno/Júpiter, dando a impressão para quem olha da Terra, de ser uma grande estrela, o que prova que eram astrólogos. Terceiro: eram também alquimistas porque entre seus presentes havia ouro, metal não tão fácil de se conseguir àquela época.

E por que se convencionou referir-se a eles como "três reis magos"?

Uma das críticas mais severas feitas aos textos herméticos foi de que eles não eram tão antigos quanto se imaginava, haviam sido escritos entre os séculos II e IV d.C. e eram na verdade, fruto de um substrato pagão do cristianismo gnóstico que quis corroborar o nascimento de Jesus como o Messias, uma vez que em tais textos consta que “o verbo se tornaria carne”. Pois bem, acredito que tais magos pertenciam à Escola de Hermes, o Hermes Trismegisto (três vezes mago) como já mencionei anteriormente. Por isso três magos: um velho, um jovem e um adulto. Acredita-se que suas relíquias ósseas estão guardadas na Catedral de Colônia na Alemanha. Somente tais sábios poderiam reconhecer a grandeza de outro mago a nascer: Jesus. Sim, pois dentro do que se compreende por “magia” (poder de curar, mover montanhas, águas, mudar o curso das estrelas, proliferar coisas, enfim...), podemos afirmar que um dos maiores magos de todos os tempos foi Jesus. E sua ida ao Egito, sede das grandes escolas de magia, não foi à toa.

Até aqui, falamos dos misteriosos reis magos. Mas o que podemos compreender por "magia”, uma vez que essa expressão pode ser confundida com feitiçaria ou bruxaria, no seu pior sentido. Esse foi um dos assuntos que examinei profunda e exaustivamente em minha pesquisa, a qual transcrevo parcialmente aqui.


A ciência sagrada como entendida pelos antigos sábios era composta por quatro artes: a Magia, a Astrologia, a Cabala e a Alquimia, isto é, artes associadas ao movimento, à luz, ao verbo e ao calor.

A palavra “mago”, no evento bíblico citado, deriva do persa Mobed, Megh e ainda Meh-ab, que queria dizer homem de grande de força, e Magusk, homem sábio. Os discípulos de Zoroastro, por exemplo, eram chamados de Megh-estom. E tanto Moisés, como Daniel foram magos que praticaram a magia caldaica e egípcia. Nesse caso, a palavra mago em caldeu deriva de magh ou mah-hindu, que significa um homem versado em ciência secreta e esotérica. É tão impossível precisar a origem da palavra magia, quanto indicar o dia em que nasceu o primeiro homem, pois a magia é tão antiga quanto o homem, como afirma Helena Blavatsky. No entanto, alguns autores modernos esforçam-se para provar que Zoroastro foi o fundador da magia, unicamente porque foi o fundador da religião dos magos. Mas a prática da magia pode ser observada em outras culturas, as quais nunca tiveram contato entre si. Cada uma das religiões, onde a magia é praticada de alguma forma, baseia-se nos estudos dos conhecimentos ocultos da natureza e maneiras de manipulá-la, juntando-se à ela o conhecimento da alquimia e da astrologia.

A palavra magnetismo, por sua vez vem de Magnésia, cidade antiga da Tessália, onde se encontravam muitas pedras imantadas. E não foi difícil estabelecer-se uma associação entre a idéia de magia e magnetismo, visto que ambas pressupõem um poder simpático e de atração. Já o parônimo de mago, “mágico” assumiu um significado muito diferente do que teve no passado. Hoje é associado ao embusteiro e charlatão. Mas em sua origem era sinônimo de honrado e respeitável, possuidor do conhecimento e da sabedoria.

O historiador Pierre Riffard afirma que para a magia ser operada considera-se que há três tipos de mundo: o elemental, o celeste e o intelectual. Portanto, há a magia natural, a magia celeste e a magia cerimonial. A magia nesse sentido, é uma faculdade que tem um imenso poder pleno de mistérios bastante exaltados, e que reafirma um conhecimento muito profundo das coisas mais concretas, sua natureza, seu poder, sua qualidade, sua substância, seus efeitos, sua diferença e seus produtos. A partir daí, ela produz seus efeitos maravilhosos pela união e aplicação feitas das diferentes virtudes dos seres superiores com as inferiores. Trata-se da verdadeira ciência, a filosofia mais elevada e mais misteriosa, a perfeição e a realização de todas as ciência naturais, pois toda a filosofia estabelecida se divide em física, matemática e teológica.

Outra relação importante a ser mencionada com a magia é a “imaginação”, isto é, o poder de criar mentalmente, movido por uma vontade. Imaginatio é parente de magnet, magia, imagio e também imagem. É o principal instrumento do conhecimento (de si, do mundo e da natureza). A respeito da relação entre imaginação e criação, afirma Alice Bailey que “para que um indivíduo possa tornar sua criação real, seja ela uma pintura, escultura ou um invento qualquer, deve ele antes imaginar, criar mentalmente, planejar. Do pensamento-forma passa-se a execução do que foi imaginado efetivamente.” Ainda sobre a magia, segundo O Caibalion, o poder é mental. É a força da mente e da imaginação que pode criar e movimentar. Portanto, podemos entender por magia o poder de concentrar a vontade na imaginação criadora, possível por meio do conhecimento das leis da natureza. É a vontade que põe a força em movimento e produz matéria.


A mente (tão bem como os metais e os elementos) pode ser transmutada de estado em estado, de grau em grau, de condição em condição, de pólo em pólo, de vibração em vibração. A verdadeira Magia é uma Arte Mental.


É importante ressaltar que desde a Renascença, não somente a Igreja como também os sábios, condenaram a “baixa magia”, consideravam os sortilégios como prática ilícita de bruxaria. Não somente a magia, mas também a astrologia, que tentava prognosticar o futuro, eram tidas como supersticiosas e eram severamente condenadas e punidas. Os vaticínios eram coisas de adivinhos e feiticeiros. No entanto, grandes navegadores como Vasco da Gama, tiveram conhecimento de astrologia para empreender suas viagens, sem serem perseguidos pela Igreja. A questão é que, esta astrologia de Gama, era uma astrologia científica diferente da astrologia judiciária (supersticiosa) como observou Miguel Faria.

Para frisar a diferença entre a baixa e a alta magia, é interessante demonstrar que durante a Renascença, o abade Tritheinm (1462 – 1516) deu um depoimento significativo sobre a prática da alta magia: “A magia, falo da magia natural, não produz somente efeitos visíveis, mas, além disso, ilumina maravilhosamente, no conhecimento da divindade, o espírito do homem instruído nessa arte, concedendo à alma frutos invisíveis”. Segundo Riffard, o abade que tentou restringir seu conceito de magia, passando a magia natural, e de magia natural, a magia lícita, acabou na verdade, ampliando sua idéia até entender por magia o conhecimento doutrinal e operativo dos segredos da natureza, da arte, do espírito e de Deus, diferindo a alta magia da magia especulativa e prognostica.


Obras consultadas:

- BLAVATSKY, Helena P. A doutrina mística. Narrações Ocultistas. São Paulo: Editora Hemus. s/d., p. 193.

- RIFFARD, P. A. O Esoterismo. São Paulo: Editora Mandarim, 1996. p. 90.

- BAYLEY, Alice A. Um tratado sobre magia branca: o caminho do discípulo. Editado por Lucis Publishing Company/New York. Porto Alegre: Gráfica e Editora A Nação, 1951.

- TRÊS INICIADOS. O Caibalion.

- FARIA, Miguel. Vaticínios e superstições: 1524 – 1577. In.: Revista Oceanos, Memória da África. no. 73, Março 1993. p. 50 – 57.

- YATES, F. Giordano Bruno e a tradição hermética. São Paulo: Editora Cultrix, 1964. p. 445 e 449.


Agora vem a grande questão: ainda existem magos?

Hum... Talvez não com o poder elevado a uma superpotência divina como no caso de Daniel, Enoch, Moisés e Jesus. Mas em pequenas escalas sim. Afinal, todo aquele que tem força de pensamento (POSITIVO, sempre positivo!) tem poder de criar, de mudar, de fazer acontecer... E a física quântica moderna, pela lei da vibração, tem provado cada vez mais que isso é possível. Então se todos fizermos uma corrente de pensamento positivo para que o mundo mude, talvez ele melhore :)

Emanando energias positivas à todos: Ohm mani padmé hum...

Feliz 2010!